O setor do calçado tem enfrentado desafios significativos desde o início de 2023, com sinais claros de abrandamento nos mercados internacionais. Em entrevista à APICCAPS, Vitor Mendes, CEO da ISI Soles, abordou as causas desse declínio, as perspetivas para 2025 e as estratégias que as empresas portuguesas podem adotar para garantir uma recuperação sustentável.
Vitor Mendes considera que a diminuição no consumo mundial, resultado da falta de liquidez das famílias ou de questões relacionadas com a sustentabilidade, é um dos principais motivos para a desaceleração no setor. Além disso, afirma que “é notória uma mudança nos hábitos de consumo, na medida em que a maioria dos consumidores, durante a pandemia, passou a adquirir novos hábitos e o calçado deixou, naturalmente, de ser uma prioridade”.
No entanto, o empresário considera que “é percetível que há um aumento da procura de calçado mais desportivo em detrimento do calçado mais clássico que habitualmente se produz em Portugal”, o que aumenta as dificuldades, além de se ter acentuado “alguma falta de competitividade das nossas empresas, razão pela qual algum tipo de calçado passou a ser produzido noutros países cujo valor final dos produtos é mais baixo”.
Embora as perspetivas para 2025 não sejam especialmente otimistas, com Vitor Mendes a afirmar que na ISI Soles ainda não se veem sinais de retoma, o CEO antecipa uma estabilização gradual: “Será expectável que as vendas no 1.º quadrimestre sejam inferiores às do ano passado, mas que a partir do início do 2.º se inicie uma estabilização na compra dos nossos produtos”.
Para aproveitar a expectável recuperação dos principais mercados internacionais, o empresário destaca a necessidade de as empresas portuguesas “investirem no desenvolvimento de novos produtos, assegurando uma maior especialização produtiva”. ” É igualmente relevante reforçar a aposta na formação e melhorar a qualidade do produto final”, acrescenta. O CEO da ISI Soles enfatiza ainda a importância de adaptar a produção a encomendas menores e melhorar na área comercial, na comunicação e no serviço ao cliente.
Vitor Mendes vê na eficiência global o principal argumento competitivo das empresas portuguesas: “Os nossos principais argumentos competitivos passam por assegurar a produção de encomendas mais pequenas e a reposição automática durante a época de venda”, afirma.
O empresário aponta ainda a personalização do produto como uma oportunidade a ser explorada, incluindo em encomendas menores. “Também a versatilidade e agilidade, até porque possuímos uma mão de obra experiente para produzir”, são fatores de valor na indústria portuguesa de calçado na opinião do CEO da ISI Soles.
Para finalizar, Vitor Mendes sublinha que a “cadeia de abastecimento, versátil, ágil, com capacidade de desenvolvimento, boa qualidade e uma relação preço/serviço, competitiva” podem fazer a diferença no competitivo mercado global.