Alguns meses após a abertura ao público, finalmente visitei o espaço de exposições “Passado, Presente e Futuro”. Este local tem vindo a conquistar a curiosidade e o interesse de muitos felgueirenses. Saí de lá com o coração cheio, uma sensação de orgulho renovado e uma profunda admiração por Felgueiras e pelas suas gentes.
A antiga escola primária, transformada em guardiã da memória coletiva, é o palco perfeito para este encontro entre história, identidade e futuro. Confesso que saí de lá orgulhoso em ser felgueirense e com a certeza de que este é um local que todos deveriam conhecer. Todos os felgueirenses deveriam visitar esta exposição pelo menos uma vez na vida.
Ao longo da visita, guiada pelo historiador Carlos Ferreira, ficou evidente a riqueza e a diversidade do nosso passado. Uma pequena nota prévia: se ainda não visitou, marque já na sua agenda, e opte por uma visita guiada. Não só é gratuita, como transforma por completo a experiência. Carlos Ferreira é um contador de histórias nato, e a forma apaixonada como nos conduz por este percurso faz-nos mergulhar verdadeiramente na história do nosso concelho.
A exposição leva-nos por alguns dos momentos mais significativos do nosso concelho, desde a Pré-história, passando pela romanização, Idade Média e Moderna, até à industrialização.
A viagem começa na Pré-história, mas o primeiro momento que mais me marcou foi o espaço dedicado à Villa Romana de Sendim. Ali, descobrimos o “Tesouro de Sendim”, um vaso encontrado repleto de moedas, que provavelmente pertenceu a um romano muito abastado. É um objeto carregado de mistério e fascínio. Não deixem também de assistir ao vídeo que apresenta a reconstrução virtual da Villa Romana – é uma peça imperdível da exposição, embora o pequeno ecrã onde é projetado não faça justiça à grandiosidade desta parte da nossa história.
Subimos ao primeiro piso, onde o destaque vai para outro marco do nosso concelho: o Mosteiro de Pombeiro. Este é um dos maiores símbolos do concelho de Felgueiras, e a cruz medieval exposta aqui é talvez a peça mais significativa de toda a exposição.
De seguida, aprendemos que a Festa em honra de Nossa Senhora das Vitórias tem a sua origem na guerra civil entre liberais e absolutistas, entre 1832 e 1834. Um desses confrontos aconteceu na Lixa, e a “vitória” ficou do lado liberal. Vem daí o nome da Festa das Vitórias. É uma história que exemplifica bem como as festas populares estão muitas vezes ligadas a momentos de grande significado histórico.
Um dos pontos altos para mim foi o mural com anúncios publicitários antigos retirados de jornais. Algumas das empresas ainda existem! Os recortes contam muitas histórias e reavivam memórias. Um anúncio da Estância do Seixoso destacava que o local estava apenas a 3 horas do Porto! Pequenas memórias que nos mostram como o tempo passou e o quanto evoluímos.
No século XX, a exposição destaca especialmente a indústria. Sobre a saudosa Metalúrgica da Longra, podemos ver um protótipo dos balcões de check-in do Aeroporto de Lisboa. Eu não sabia, mas durante muitos anos estes balcões desenhados e fabricados em Felgueiras estiveram ao serviço no aeroporto! Este detalhe mostra a capacidade criativa e industrial do nosso concelho.
Na indústria há ainda espaço para o têxtil, com destaque para a Belcor e a Triple Marfel. Esta última tem algumas camisas em exposição: “A camisa do homem que as mulheres preferem” era o slogan da Triple Marfel. Uma frase icónica que marcou uma geração e que ainda ecoa na memória de muitos.
“Felgueiras calça o mundo” é o tema do espaço seguinte, dedicado, claro, à indústria do calçado, o maior símbolo da identidade económica e social do nosso concelho nas últimas décadas. Podemos ver algumas réplicas de modelos de sapatos produzidos em Felgueiras e calçados por famosos, solas fabricadas com materiais sustentáveis e uma antiga mesa de sapateiro.
Confesso que foi a área da exposição que achei “mais pobre”. Talvez porque as minhas expectativas eram elevadas, ou porque acho que a indústria de calçado de Felgueiras merecia um espaço próprio, muito à semelhança do Museu do Calçado em São João da Madeira. Afinal, este setor emprega milhares de felgueirenses e coloca o nome do nosso concelho nos quatro cantos do mundo.
Outros destaques incluem o povoado da Cimalha, ou famoso o Pão de Ló de Margaride, que também ganha o seu merecido espaço na exposição. Um dos momentos mais marcantes para mim foi ouvir o hino de Felgueiras, gravado pela primeira vez em 1917. Sabia que o nosso concelho tem um hino? Pequenos detalhes como este reforçam o nosso sentimento de pertença.
Por fim, visitamos a Loja Interativa de Turismo, que agora também se encontra, e bem, neste espaço. Foi uma viagem pelo nosso território e pela nossa identidade, cheia de histórias que levei para casa. Saí desta antiga escola primária (onde estudei) com orgulho em ser felgueirense e com a clara convicção de que, com um passado tão rico e com gentes tão empreendedoras, Felgueiras terá um futuro que dará também muitas histórias para contar.
Esta exposição é mais do que um olhar para o passado. É uma viagem no tempo que nos fortalece enquanto comunidade, que nos inspira a construir um futuro melhor. Recomendo vivamente que todos os felgueirenses visitem este espaço pelo menos uma vez. E volto a sublinhar: optem pela visita guiada. Agora, no inverno, estas decorrem no primeiro domingo de cada mês, sem necessidade de marcação, às 10h30, 14h30 e 16h00. É uma experiência que nos enriquece e que nos faz sair de lá com um orgulho imenso na nossa terra e nas nossas gentes.
Porque Felgueiras não é apenas o passado, é também o futuro que juntos estamos a construir.