Pedro Fonseca e Rui Oliveira convidaram Vitor Mendes, CEO da ISI Soles, para participar no mais recente episódio de “O Mais Famoso Podcast Sobre Calçado!”. A ISI Soles, reconhecida fábrica felgueirense de produção de solas para calçado, produz anualmente três milhões de pares de solas, e emprega cerca de 130 colaboradores. Este episódio do Podcast abordou não só o percurso da empresa, mas também as suas perspetivas para o futuro do setor do calçado.
Vitor Mendes contou que começou a trabalhar muito jovem no calçado, aos 14 anos, numa era em que Felgueiras “estava a viver uma revolução industrial”. Estávamos nos anos 80 do século passado, e em Felgueiras começavam a nascer muitas fábricas de calçado e havia, por isso, necessidade de mão de obra. “Na altura, os jovens saíam muito cedo e muito novos da escola para as empresas”, disse Vitor Mendes, salientando que teve “a sorte de começar numa empresa moderna, a Felmini.”
“Mais tarde, o sr. Moreira [CEO da Felmini] deu-me a oportunidade de trabalhar no armazém das solas, palmilhas e acessórios”, conta Vitor Mendes revelando que foi nessa fase que começou a sua “paixão das solas”. Foi também nessa altura que viu “as primeiras máquinas de injeção”. Posteriormente, passou pela Rolando Cunha e Melo, onde teve contacto com “solas injetadas e solas pré-fabricadas”, aquilo que hoje é o principal negócio da ISI Soles.
Depois de “dez anos de experiência de trabalho”, aos 24 anos, Vitor Mendes decidiu avançar para a própria empresa. Inicialmente, “era um projeto pequeno, com três pessoas a trabalhar 24 horas por dia”, possível com o investimento de “algumas poupanças” do próprio, e da “ajuda e suporte dos pais”.
“Há momentos que marcam as empresas, e normalmente são momentos de dificuldade. Constituímos a sociedade em 1999, e no ano 2000 estávamos falidos. Felizmente, contei com o apoio dos meus pais, que, naquela época, hipotecaram a casa em troco de um financiamento bancário para que nós nos pudéssemos alavancar e recuperar a vertente financeira. Esse é o primeiro momento marcante da história da ISI Soles”, conta Vitor Mendes.
O empresário relata que foi há cerca de 17 anos que começaram a “desenvolver a coleção própria”, destacando o momento em que foram pela primeira vez à Lineapelle como aquele em que se passou a sentir “uma nova dimensão da empresa”. Os “agentes de calçado e fábricas nacionais” começaram a olhar para a ISI Soles “de forma diferente”.
A ISI Soles tem conseguido adaptar-se e expandir-se, tendo mudado de instalações há cerca de dez anos, de Friande para a Zona Industrial de Cabeça de Porca, em Sendim, altura em que foi para ocupar 1300m2, mas hoje já ocupa 4600m2. O objetivo da mudança, de acordo com o CEO da empresa, “não foi só investimento nas instalações”, foi também “dar melhores condições aos colaboradores, sejam elas de estrutura ou salariais, e ao mesmo tempo a nível de equipamentos”. O empresário partilha que, das máquinas de injeção que tinham no início, “já não existe nenhuma”.
Vitor Mendes também falou sobre a importância da sustentabilidade, uns dos motivos pelos quais trocaram os equipamentos para novos “com menos consumo de energia, mais rapidez e melhor qualidade”.
Rui Oliveira destaca que “a investigação & desenvolvimento, a introdução de novos materiais, a questão da sustentabilidade” fazem da indústria de solas portuguesa “uma das que mais se desenvolveu. É um dos componentes para calçado que trazem maior valor acrescentado”. Sublinha também “a eficiência e a forma como hoje as solas são trabalhadas e projetadas”. “Foi uma indústria que se reinventou nos últimos anos, muito devido à competitividade internacional”, justificou Rui Oliveira.
Hoje em dia, a exportação é parte da estratégia base da ISI Soles. Vitor Mendes afirma que exportar “passa a ser uma obrigação a partir do momento em que as empresas obtêm financiamentos e incentivos de quadros comunitários”, pois estes têm as exportações como objetivo. Além disso, há vantagens para a indústria em geral, pois as empresas que desenvolvem solas gastam valores avultados e procuram trazer clientes para Portugal, e muitas vezes com eles “vem a rasto o negócio da fabricação de calçado”, gerando negócio e trabalho para o restante cluster português de calçado.
Sobre tendências, o CEO afirma que as coleções da ISI Soles, “em primeiro lugar, são pensadas para os clientes”. Estamos atentos a “tudo o que são marcas de luxo ou influencers”, e depois aplica o conhecimento técnico para desenvolver as melhores apostas na próxima coleção. Em média, a ISI Soles tem registado “27 a 30 modelos por época”, sendo que a empresa trabalha “com mais cinco mil versões por ano e em uma semana encaixamos mais de 90 modelos em produção. É um desafio!”.
O que aguarda o futuro para a indústria do calçado? O CEO da ISI Soles considera que “esta crise é mais uma, só que tem sido mais longa,” e que a indústria enfrenta não só desafios económicos impostos pelas guerras, mas também uma mudança nos hábitos de consumo. O empresário acredita que “é uma mudança” que está a acontecer e que é importante ter capacidade de adaptação.
Num olhar para o futuro, o empresário reafirma o compromisso da ISI Soles em consolidar os seus “principais produtos”. A empresa está também a implementar um novo layout para terem “maior capacidade resposta àquilo que são as encomendas mais pequenas”, adaptando-se “àquilo que é a realidade” atual. Finalizando a conversa, Vitor Mendes salienta a importância de “agradecer aos colaboradores que existem e a este meio”, afirmando que “é muito importante continuar a manter e atrair a mão de obra que está presente neste cluster”.
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