No mais recente episódio de “O Mais Famoso Podcast Sobre Calçado!”, Pedro Fonseca e Rui Oliveira conversaram com Pedro Cilínio, Secretário de Estado da Economia.
Pedro Fonseca destacou a falta de encomendas nos meses tradicionalmente fortes para a produção da estação de inverno. “As fábricas trabalharam a meio gás, sem horas extras. Algumas não têm encomendas para setembro“, disse.
Rui Oliveira traçou um panorama geral complexo na indústria do calçado. Ele atribuiu a crise a vários fatores, incluindo os efeitos residuais da pandemia de Covid-19. “O ano de 2022 foi atípico em termos de encomendas, devido ao encerramento do mercado asiático e à deslocalização de produções para a Europa, especialmente para Portugal“, explicou. Com a reabertura do mercado asiático em 2023, muitos clientes voltaram a fazer encomendas em países asiáticos, impactando negativamente o setor português.
Rui Oliveira também mencionou outros desafios, como o excesso de stock das marcas de 2022, a inflação que retraiu o consumidor, a cautela dos investidores e a guerra na Ucrânia. Destacou a necessidade de o setor se adaptar, focando em vantagens competitivas, como entregas rápidas e flexíveis, em vez de competir em preço com o mercado asiático.
“Os dados estatísticos do INE não refletem a realidade de muitos empresários“, lamentou Rui Oliveira, referindo-se à discrepância entre as estatísticas oficiais e a situação no terreno. Falou sobre empresas em lay-off e a subcontratação enfrentando dificuldades extremas.
Rui Oliveira concluiu com uma previsão sombria para os próximos meses: “O ano de 2023 será de extremas dificuldades para a indústria de calçado, especialmente para o mercado europeu, onde também se sentem os impactos negativos da inflação.”
Na sua análise da sobre a situação atual da indústria do calçado, o Secretário de Estado da Economia começou por destacar os efeitos transitórios e conjunturais que a indústria está a enfrentar, nomeadamente o chamado “efeito chicote” causado pela pandemia de Covid-19. Este efeito refere-se à assimetria de informação entre consumidores, retalhistas, grossistas e produtores, levando a flutuações na oferta e procura. Este efeito, exacerbado pela pandemia de Covid-19, resultou em excesso de stock e consequente redução de encomendas.
Citando conversas com empresários na Micam, Pedro Cilínio mencionou que muitos já previam um 2023 menos próspero, após um 2022 excecionalmente bom para o setor. “Muitos empresários já o diziam: diziam que 2022 foi ano tão bom que se em 2023 eu mantiver, ou mesmo que reduza pouco a minha atividade, já estarei bastante satisfeito“, afirmou.
Contudo, Pedro Cilínio mostrou-se preocupado com a contração de alguns mercados, especialmente o alemão, “que é o principal mercado de exportação do calçado e que está estagnado”. A estagnação deste mercado, juntamente com ajustamentos inflacionistas e taxas de juro, tem criado incertezas para os agentes económicos. “Esta incerteza daquilo que é o motor da economia europeia, cria também incerteza nos agentes económicos e obviamente no setor do calçado, uma vez que 21% das exportações são para o mercado alemão”.
No entanto, o secretário de Estado da Economia também trouxe algumas perspetivas otimistas. Ele acredita que a subida das taxas de juro pode estar a chegar ao seu pico e que a inflação em Portugal está a mostrar sinais de redução. “Poderemos estar perante aquilo que é o planalto da subida das taxas de juros. A expectativa que temos é que a inflação tem vindo a demonstrar uma redução acentuada, neste momento já estamos a 3,1% em Portugal, esperemos que o resto da Europa continue também nesta progressão, uma vez que está ainda pouco acima”, disse.
De acordo com Pedro Cilínio, a estagnação e diminuição das taxas de juro poderão ter dois efeitos: “Por lado, permite que as empresas retomem as suas estratégias de investimento, uma vez que perante a incerteza é normal que as empresas façam algum compasso de espera para perceber como é que as coisas vão correr; mas também permite devolver rendimentos aos cidadãos, uma vez que os cidadãos estão a ser penalizados pelo aumento das taxas de juros, principalmente no que tem a ver com os créditos da habitação”.
O Secretário de Estado da Economia concluiu com uma palavra de esperança para o futuro, acreditando que a redução das taxas de juro em 2024 poderá ter um impacto positivo na economia portuguesa e, consequentemente, no setor do calçado. “Esperamos que em 2024, que é essa a perspetiva, já podemos ter algumas reduções de taxa de juros. Eu sou otimista por natureza, acredito que sim, que iremos ter, e que isso já poderá traduzir num efeito positivo, retirando um pouco este travão que está a ser colocado pela política monetária sobre as várias economias, e a economia portuguesa também acaba por ser afetada também por esse travão”, concluiu Pedro Cilínio.
Leia também:
- Parte 2 - Secretário de Estado da Economia discute possíveis medidas para enfrentar a crise do setor do calçado
- Parte 3 - Pedro Cilínio destaca a importância dos fundos comunitários, o PRR e o Portugal 2030 para a indústria do calçado
- Parte 4 - Secretário de Estado da Economia revela impressões sobre o setor do calçado
- Parte 5 - A estratégia do setor do calçado Português: a visão do Secretário de Estado da Economia
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