Rui Oliveira, diretor da fábrica de calçado Samba, foi destaque no Sabato, o suplemento de fim de semana do jornal belga L’Echo, onde partilhou a sua trajetória profissional, os desafios da indústria do calçado e o compromisso com a sustentabilidade. No artigo, sublinhou a colaboração da Samba com a marca francesa Veja e defendeu o valor do ‘Made in Portugal’.
Na entrevista, Rui Oliveira recordou as suas origens ligadas aos sapatos: “A minha infância foi marcada pelo cheiro a pele: a minha mãe era costureira e o meu pai trabalhava como vendedor de calçado.”
Embora a ligação venha da infância, o seu percurso profissional levou-o para longe de Felgueiras. Antes de regressar, trabalhou na ONU e na NATO, onde integrou o gabinete do então secretário-geral Anders Rasmussen. “A vida no centro do poder fascinava-me, mas um dia, ao almoçar com uma colega norueguesa que tinha dedicado a vida à NATO, percebi que não queria perder momentos importantes da minha família. Aos 30 anos, decidi regressar às origens e apostar na renovação da Samba.”
A Samba, empresa familiar com três gerações de história, colabora com marcas internacionais como Clarks, Hugo Boss e Vivienne Westwood, consolidando a posição de Felgueiras como epicentro da produção de calçado em Portugal. “Aqui, 80% da população trabalha, direta ou indiretamente, neste setor. Costuma dizer-se que os habitantes de Felgueiras nascem dentro de uma caixa de sapatos”, confidenciou ao jornalista do L’Echo, Thijs Demeulemeester.
A parceria com a Veja
Desde 2022, a Samba tornou-se parceira da Veja, marca francesa conhecida pelo seu compromisso ambiental. Embora a produção da empresa seja concentrada no Brasil desde 2005, parte do fabrico foi relocalizado para Felgueiras, onde é produzido o modelo V-90 Aegean. Esta parceria foi também um dos destaque desta entrevista.
A aposta na transparência e rastreabilidade é um dos pilares desta colaboração. “Como produtores, queremos abraçar a abordagem de sustentabilidade defendida pela Veja. O nosso objetivo é a rastreabilidade total nos nossos materiais: queremos conhecer a sua origem, as condições da sua produção e o como são tratados dos trabalhadores”, sublinhou.
No entanto, a produção amiga do ambiente traz desafios acrescidos. “Produzir 100% de forma sustentável ainda é uma utopia, mas estamos a avançar nesse sentido. O custo é mais alto, mas significa que podemos dormir de consciência tranquila”, acrescentou.
O empresário também destacou as diferenças entre produzir na Europa e na Ásia, não apenas em termos de preço e qualidade, mas também no enquadramento legal e nas condições de trabalho. “O ‘Made in Portugal’ ainda não tem o prestígio do ‘Made in Italy’ na mente do consumidor, mas a qualidade que oferecemos é equivalente.”