Num momento em que a indústria do calçado atravessa uma fase de incerteza, devido à Covid-19, o Felgueiras Magazine entrevistou José Cunha Pinto, gerente da Combocal, uma empresa felgueirense do setor dos componentes para calçado.
Felgueiras Magazine – Com toda a situação da Covid-19, como vê o setor do calçado no momento presente? Há já sinais de alguma normalidade.
José Cunha Pinto – No momento presente, notamos que o setor do calçado, de um modo geral, está aos poucos a voltar à normalidade. O que se nota também, é que as encomendas que chegam atualmente são cada vez mais urgentes e com datas de entrega mais reduzidas.
Felgueiras Magazine – Haverá o risco de as empresas do setor terem que se reestruturar, resultando dessa reestruturação uma diminuição dos colaboradores ao serviço das empresas de calçado?
José Cunha Pinto – Mediante a situação atual que atravessamos, esse risco de facto existe.
Ao longo dos últimos anos, o setor do calçado já passou por diversos momentos difíceis, e na generalidade sempre se deu a volta por cima. Mas nada comparado com este momento presente. Há um enorme clima de incerteza, pois não se sabe o que poderá acontecer nos próximos meses.
Para o bem de todos, esperemos que num futuro próximo as empresas tenham o mesmo volume de encomendas que tinham antes da pandemia, de modo a que as mesmas não se tenham que restruturar.
Felgueiras Magazine – Nesta fase de incerteza, considera que as grandes feiras de calçado continuam a ser estratégicas para o sector dos componentes ou na sua opinião tornaram-se obsoletas? Este ano, a Combocal vai estar presente em alguma feira como expositor ou visitante?
José Cunha Pinto – As feiras são sempre importantes na exposição, num contexto internacional, do nosso trabalho desenvolvido. Penso que nunca serão obsoletas, embora de momento, com o crescimento das plataformas digitais no setor, acredito que surgirão eventos de exposição online, e outras alternativas com o mesmo propósito das típicas feiras do setor.
Na próxima edição da Lineapelle em Milão, a Combocal não vai participar como expositor pois achamos que não estão reunidas as condições de segurança e saúde pública para a realização da mesma.
Felgueiras Magazine – A sustentabilidade está a ganhar cada vez mais importância no sector do calçado. Os produtos sustentáveis são uma aposta que a Combocal está a fazer?
José Cunha Pinto – Sim. Neste momento estamos a desenvolver uma linha inovadora de materiais amigos do ambiente – os Biocompósitos de borracha. “Pequenas ações, levam a grandes mudanças”. Seguindo este raciocínio acreditamos que a produção mais sustentável de solas, somando a todas a inovações sustentáveis que surgem diariamente em todo o mundo, podem levar a que aos poucos o planeta se torne mais verde, como já foi no passado. Até ao momento, já mostramos que é possível fazer solas de borracha inovadoras reaproveitando resíduos naturais, tais como as cascas do café, fibras de bananeira, borras do café, entre outros resíduos.
Felgueiras Magazine – Como é que as indústrias dos componentes se comparam com os seus concorrentes internacionais? Quais as nossas vantagens competitivas?
José Cunha Pinto – Nos últimos anos, as empresas ligadas ao setor do calçado têm vindo a desenvolver um reconhecimento de destaque pela qualidade dos produtos produzidos em Portugal, dando cada vez mais realce ao “Made in Portugal”. Deste modo, a forte aposta em novos materiais inovadores, no Design dos produtos e na aproximação das empresas com as Universidades Portuguesas e centros de investigação, potenciando a investigação e o aparecimento de novos Produtos, levará a que as empresas de componentes portuguesas ganhem vantagens diferenciadoras quando comparadas com os seus concorrentes internacionais.