O mais recente episódio do podcast “O Que Ninguém Te Conta Sobre Felgueiras”, produzido pelo Felgueiras Magazine, reuniu Pedro Fonseca, António Faria e Leonel Costa para analisar o rescaldo das eleições autárquicas de 2025.
Com uma maioria expressiva de 71,05% dos votos, Nuno Fonseca e a coligação Sim Acredita foram apontados como os grandes vencedores da noite — mas a conversa revelou outras interpretações sobre o que este resultado diz da política local e do futuro do concelho.
“Uma vitória muito pessoal de Nuno Fonseca”
Logo no início do debate, António Faria — eleito para a Assembleia Municipal e apontado como provável futuro presidente desse órgão — não teve dúvidas ao identificar o principal vencedor.
“O grande vencedor das eleições é o Nuno Fonseca e a coligação Sim Acredita. Mas esta vitória é muito pessoal. Nunca se tinha alcançado um resultado destes em Felgueiras”, sublinhou.
Leonel Costa concordou e reforçou a ideia de que a dimensão da vitória vai além da estrutura partidária. “A figura de Nuno Fonseca sai enaltecida. É o nome de Nuno Fonseca que é forte. Quem gosta do Nuno Fonseca, gosta mesmo — e quem não gosta, também o diz abertamente. Mas isso é natural em quem tem uma marca forte”, disse.
Para o comentador, o atual presidente da Câmara tem conseguido projetar a sua imagem para além dos partidos que compõem a coligação. “Esta é uma vitória muito pessoal, e ele próprio já o disse: para o projeto continuar, Nuno Fonseca terá de ‘emprestar’ o seu prestígio aos futuros candidatos”, acrescentou.
Obras, contexto económico e o peso da popularidade
Pedro Fonseca, diretor do Felgueiras Magazine, destacou que o resultado “fala por si”, mas lembrou que o último ano de mandato teve um peso determinante: “Em 2025 vimos obras por todo o concelho, como raramente se viu. Isso ajudou muito a consolidar a imagem de obra feita. Se as eleições fossem um ano antes, o resultado talvez fosse diferente, ainda que sempre expressivo.”
Leonel Costa sublinhou, contudo, que o contexto económico também teve influência. “O ambiente macroeconómico foi favorável e os fundos comunitários permitiram concretizar muitas das obras. O mérito existe, mas o contexto ajudou”, observou.
Já António Faria lembrou que os investimentos recentes resultaram de um trabalho de planeamento mais longo. “Muita da obra visível agora — como as pavimentações — assenta em intervenções que estavam debaixo de terra, como o saneamento. E esse trabalho preparatório é fundamental”, afirmou.
Os outros vencedores da noite
Para além do candidato socialista, os participantes destacaram outros “vencedores”: os cidadãos que participaram na campanha, os candidatos de todos os partidos e os eleitores que foram às urnas.
A taxa de abstenção desceu para 33%, quatro pontos abaixo da de 2021, sinal que Pedro Fonseca classificou como “muito positivo”.
“Felgueiras precisa de todos: dos que governam e dos que questionam. A democracia fez-se com elevação”, afirmou o Pedro Fonseca.
O PSD e o Chega entre os vencidos
No capítulo dos “derrotados”, a leitura foi mais unânime.
Leonel Costa considerou que o PSD foi o grande perdedor da noite, não apenas pelos resultados, mas pela incapacidade de aproveitar o desgaste natural de oito anos de governação socialista. “O PSD saiu derrotado porque não conseguiu capitalizar o desgaste do poder. Parte dos votos perdidos foram para o Chega, e isso mostra que a oposição se fragmentou”, analisou.
O comentador deixou ainda críticas à atuação de alguns autarcas que mudaram de posição política. “O PSD também foi abalroado pela máquina do poder local. Houve presidentes de junta que passaram a independentes e depois apoiaram a coligação Sim Acredita. Isso fragilizou o partido”, referiu.
Pedro Fonseca partilhou da análise e apontou quatro razões principais para a derrota: A ausência de uma oposição ativa nos últimos oito anos; A pouca notoriedade da candidata Marta Rocha – e a sua campanha/pré-campanha começou muito tarde para uma pessoa que precisa de se dar a conhecer; e a dificuldade de enfrentar a popularidade de Nuno Fonseca.
Já o Chega, segundo Pedro Fonseca, “apostou muito na eleição de um vereador. Havia muita confiança nessa eleição, mas ficou bem longe de o conseguir. Uma derrota para Eduardo Teixeira e para o Chega”.
Notas finais: democracia, responsabilidade e futuro
Na reta final do episódio, houve espaço para reflexão.
Leonel Costa elogiou o “barómetro” do Felgueiras Magazine — um inquérito de opinião realizado em agosto que antecipou uma vitória de 72% para Nuno Fonseca — e deixou uma mensagem sobre ética política: “As pessoas deviam candidatar-se quando já têm a vida organizada e não precisam da política para viver. Isso é sinal de maturidade democrática.”
António Faria, por sua vez, destacou o “ambiente cordial” da campanha, depois de alguns incidentes iniciais, e prometeu diálogo caso venha a presidir à Assembleia Municipal. “Enquanto houver respeito, serei flexível com os tempos e a palavra. Quando não houver, cumprirei o regimento à risca. Um bom poder faz-se com uma boa oposição.”
Pedro Fonseca encerrou o episódio com uma ideia comum a todos: em Felgueiras, a democracia saiu fortalecida — e o debate político, quando feito com respeito, é sempre o maior vencedor.