Nesta entrevista exclusiva ao Felgueiras Magazine, a artista Marina Leão, conta-nos aquele que tem sido o seu percurso no mundo da Arte. Licenciada em Design de Comunicação, a felgueirense de 38 anos é apaixonada pela pintura, pelas cores, e pela vida. Inspirada pela natureza e pelas diferentes culturas, resume-se numa simples frase: “sou apenas e só, um mundo dentro do mundo, e cada tela, é um grito da alma, onde as cores pintam os sonhos e as obras levam pedacinhos de mim”.
Felgueiras Magazine – O que é que a inspira?
Marina Leão – Principalmente a natureza. A natureza em todo o seu esplendor, passando pela imagem e som da água a correr, pelo esvoaçar, leveza e liberdade dos pássaros, ou mesmo pela dança das borboletas! Também me inspiro muito nas diferentes culturas, nas suas tradições, cores, músicas, danças e indumentárias.
Felgueiras Magazine – Como definiria os seus trabalhos?
Marina Leão – Tal como na vida, entrego-me à arte de corpo e alma, e resumo a minha vida e o meu trabalho numa simples frase: “É muito fácil definir-me, sou apenas e só, um mundo dentro do mundo, e cada tela, é um grito da alma, onde as cores pintam os sonhos e as obras levam pedacinhos de mim”.
Felgueiras Magazine – Quando e como nasce o interesse de Marina Leão pelo mundo artístico?
Marina Leão – Adoro pintar desde que me lembro (não desenhar! Detesto desenhar!), mas pintar é das coisas que mais gosto de fazer! Gosto de ver uma base branca ganhar cor, e simultaneamente “vida”. Por isso, não posso dizer que há um quando, ou um como. Há sim um interesse crescente ao longo do tempo por saber mais, por diferentes materiais e técnicas, que levam a diferentes testes, e experiências. Quando dou por mim, estou no Curso Geral de Artes, desvio-me da pintura nos estudos (ao seguir pela área do design), mas o gosto e o sentir do pincel a deslizar pelo papel, tela ou tecido está intrínseco… e de vez em quando, dedico grande parte do meu (pouco) tempo livre a pintar!
Felgueiras Magazine – Como foi vivenciar o confinamento causado pelo covid-19? Afetou o seu processo criativo ou trouxe-lhe novas obras?
Marina Leão – Como a maioria das pessoas, vivia naquela correria do dia a dia, com horários apertados, e limitada pelas horas que não chegavam para fazer tudo aquilo que gostaria de fazer. O confinamento foi a oportunidade para parar, respirar, sentir, ter mais tempo para ouvir a natureza, e para dar uma nova vida a todos aqueles materiais que estavam nas estantes à espera que um dia, o tempo ou alguma ideia os fizesse renascer! E assim foi!
Fiz algumas pesquisas (faço inúmeras sobre o tema que estou a pensar desenvolver antes de iniciar qualquer projeto) e “deitei mãos à obra”! Fiz algumas experiências com materiais com os quais nunca tinha trabalhado, misturei os vários materiais que tinha em casa, e desses testes e experiências resultou “Rustic”, um evento onde apresentei uma exposição e uma feirinha artesanal, inspirados na natureza, na cultura e nos mercados celtas, com obras em acrílico sobre tecido e madeira, e pequenos objetos decorativos em parafina, macramê, e resina.
Felgueiras Magazine – Costuma realizar exposições no Barracão da Cultura – ACR “As Formigas de Macieira”. Qual a importância deste equipamento no panorama cultural do concelho?
Marina Leão – Já realizei várias exposições no Barracão de Cultura, “BC” como amigavelmente lhe chamamos. O BC é um espaço muito simpático e acolhedor, quer em termos de espaço físico, quer em termos humanos. Um espaço que efetivamente não é muito grande, mas que dispõe de condições fantásticas para diferentes tipos de apresentação. Além do espaço de exposição, dispõe de palco, bastidores, sistema de luzes e som, biblioteca, cozinha equipada, e um barzinho de apoio a todas as atividades.
Na minha opinião, este equipamento é sem dúvida uma mais valia para a cultura do concelho. O “BC” dispõe de um calendário de atividades mensal, com o programa gratuito: “É sábado no BC”, onde todos os sábados à noite, há uma atividade cultural a decorrer como serões de poesia, inaugurações de exposições, apresentações de livros, noites dançantes, entre outras.
Se acrescentarmos a tudo isto o facto de estar situado numa aldeia, e não num centro urbano, acho que este equipamento ganha ainda mais dimensão, pois consegue fazer chegar a cultura a outros públicos, consegue desconstruir a ideia de que a cultura só está acessível nos grandes centros. Não! Em Macieira da Lixa, uma aldeia do concelho de Felgueiras, a cultura é gratuita, e é acessível a todos!
Felgueiras Magazine – Como é ser uma artista em Felgueiras?
Marina Leão – Com base na minha experiência, acho que ser artista em Felgueiras nos dia de hoje é mais fácil. Felgueiras tem vindo a incentivar e a apoiar os diferentes artistas do concelho com convites para a participação em vários eventos, permitindo assim dar mais visibilidade aos artistas da terra, e criando oportunidades para novos talentos.
Felgueiras Magazine – Sente que o concelho apoia e reconhece o trabalho dos artistas, ou poderia ser feito algo mais?
Marina Leão – Sinto que o concelho já apoia e reconhece o trabalho dos artistas. No entanto, como todos sabemos, é muito difícil vingar nesta área, e há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito à valorização dos artistas, ou seja, ainda há muito a fazer!
Felgueiras Magazine – Qual o trabalho artístico que mais orgulho lhe trouxe?
Marina Leão – Como dou tudo de mim em cada trabalho que faço, cada obra ou projeto são únicos. Por isso, é muito difícil dizer qual o que me deixou mais orgulhosa! Se tivesse que escolher aqueles em que o resultado final me emocionou verdadeiramente, escolheria 3 trabalhos, 2 obras individuais e 1 projeto.
Como obras individuais, “Freedom” (obra em tela, onde retratei através do rosto de uma mulher africana e das suas lágrimas, o seu país a sua vida) e “Escrava & Deusa” (obra em tecido, onde representei a mulher nas várias vertentes ditadas pela sociedade). O projeto que mais me emocionou, quer a preparar, quer a apresentar foi: “Myself by Myself”. Uma exposição onde eu mesma sou a base, Fernando Pessoa é o meio, e as obras o resultado. Uma exposição dividida em duas partes, toda ela sobre mim, onde ligo todas as artes que mais me apaixonam. Esta exposição culmina em duas inaugurações emotivas com ligação entre todos os pormenores que compõem a exposição.
Felgueiras Magazine – Qual o seu maior “sonho” profissional a longo prazo?
Marina Leão – O meu maior sonho é ter um espaço meu. Onde as pessoas possam entrar, estar em contacto comigo enquanto pinto, ou faço novas experiências artísticas. Um espaço onde essas mesmas pessoas se sintam à vontade para experimentar, pintar, ou moldar.
