É com um brilho nos olhos que José Leite conta que sempre foi sapateiro desde os 12 anos de idade, percurso esse, que agora, já soma mais de 33 anos de experiência na área.
“Por volta de 1988/89, comecei a adaptar-me a fazer calçado de tamanho grande, e, foi nessa altura, que vendi o meu primeiro par tamanho 52, a um jovem de 18 anos de São Mamede Infesta“, partilha o sapateiro explicando que foi a partir daí, que também começou a fazer “sapatos de palhaço“.
Com humildade na voz e orgulho nas mãos calejadas, José Leite diz já ter feito “um par de sapatilhas desportivas para o maior homem do mundo, um ucraniano, com os seus 2,60m”. “Ele já deve ter falecido”, afirma o sapateiro. “Acompanho vários casos semelhantes, e ouço os cientistas dizerem que essas pessoas tem uma esperança de vida de 40 e poucos anos, pois geralmente, partem pela coluna”.
José Leite comenta, em jeito de curiosidade, que “mais recentemente acompanhava uma turca que media 2,40m e calçava o tamanho 58. Ela também já faleceu, e não tinha 40 anos“, conta.
Quando questionado sobre situações mais singulares na zona, o sapateiro garante já ter feito calçado para senhoras “de 44, 45, e 43,5, que viviam nas zonas de Coimbra, Marco de Canavezes e Vizela“.
José Leite assegura que “mesmo quando era motorista de uma empresa”, continuou a trabalhar “como sapateiro“, confessando emocionado que se foi “apaixonando por esta atividade“. O sapateiro ri-se dizendo que mesmo à noite, o seu cérebro “está sempre a pensar em novos modelos”.
Quanto ao tempo de produção, José Leite mostra que esta é uma arte meticulosa, uma vez que, só faz “um sapato de cada vez, por causa da parte de cima”, para que a forma do mesmo fique “perfeita“. A este processo que demora aproximadamente 24 horas, juntam-se ainda as cerca de 8 horas que o criador demora a produzir um sapato, caso já tiver “o corte feito”. José Leite garante só usar pele na confeção do calçado, na medida em que preza por material “com qualidade” e “impermeável”.
Sobre o futuro, o sapateiro expressa a sua vontade de ainda “trabalhar uns bons anos”, naquela que é a sua “paixão”. José Leite garante sentir-se “capaz” por agora, e acrescenta a importância desta atividade na sua vida, pelo facto de o manter “ocupado”.
Num produto tão particular, a curiosidade sobre os clientes surge. José Leite esclarece que quem lhe compra o calçado são “os palhaços do circo e também algumas casas aqui do Norte”. Com alguma tristeza o sapateiro comenta que tem “vendido menos quantidade nos últimos tempos. Este ano só vendi uns 8 pares“. Saudoso, José Leite fala sobre os tempos áureos do negócio, mencionado que “foi há 5 anos que vendi uns valentes pares de sapatos“.
Sobre o concelho que o viu nascer, José Leite afirma que Felgueiras “já está muito mais desenvolvida para o que se via há 30 anos”. Numa zona geográfica onde “99,9% é calçado“, o sapateiro é da opinião que aqui “só não trabalha quem não quer”.
Quando a questão é sobre o que falta à cidade, o sapateiro diz que “gostava que houvesse um parque da cidade“, e deseja ainda que “se aqui houvesse um rio como Amarante, era incrível”.
Com certeza na garganta, José Leite diz que “a vida mudou muito“, e explica que já há cerca de 4 anos que deixou “de fazer os sapatos para os gigantes, a partir do 48 para cima“, uma vez que “hoje em dia há calçado desportivo com muita numeração, não é como antigamente”. O sapateiro assume que o “calçado desportivo teve um crescimento enorme“, e reconhece ainda não poder “competir contra isso“.
José Leite lamenta a pouca seriedade do negócio, explicando que, por diversas vezes, já teve “alguns calotes, pessoas que dizem que pagam e fazem, e, no final, falham”.
O sapateiro que confessa não ter grandes “seguidores interessados em aprender” esta arte, garante que só entregará o conhecimento, a alguém que genuinamente tenha igual “paixão”.