O setor português de calçado começa a dar os primeiros sinais consistentes de recuperação, não obstante o Eurostat indicar que o mercado permanece em baixa. As respostas ao Inquérito Trimestral de Conjuntura da APICCAPS relativas ao primeiro trimestre de 2024, dão indícios de inversão da tendência de degradação da conjuntura da indústria portuguesa de calçado observada no último ano: de uma maneira geral, as respostas foram melhores do que no trimestre anterior e as previsões para o próximo trimestre apontam já para uma evolução positiva da situação.
De acordo com Boletim Trimestral de Conjuntura da APICCAPS, elaborado pela Universidade Católica do Porto, “no primeiro trimestre do ano, a produção e as encomendas tiveram ainda uma evolução desfavorável, mas menos acentuada do que nos trimestres anteriores”. Com efeito, no contexto de “um forte abrandamento das importações de calçado pelos principais importadores mundiais, a insuficiência de encomendas de clientes estrangeiros é, por larga margem, a dificuldade mais mencionada pelas empresas”.
Consequentemente, as empresas orientadas predominantemente para o mercado interno mostram-se mais satisfeitas do que as restantes.
No primeiro trimestre do ano, a produção da indústria do calçado na União Europeia, segundo o Eurostat, recuou e permaneceu consideravelmente abaixo da verificada um ano antes: o índice de produção industrial para o conjunto dos 27 países membros diminuiu 5,7% face ao último trimestre de 2023 e 17,8% face ao trimestre homólogo do anterior. A quebra face ao trimestre anterior foi bastante mais acentuada em Itália (-8,9%) do que em Espanha (-2,8%). Estas tendências negativas não foram, aliás, exclusivas da UE: na Turquia, no primeiro trimestre 2024, o índice de produção industrial do calçado recuou 2,3% face ao trimestre anterior e 20,6% face ao trimestre homólogo do ano anterior.
A outro nível, os preços do calçado ao nível do produtor continuam a abrandar. No conjunto dos 27 países membros da UE, no primeiro trimestre, os preços aumentaram 0,4% face ao trimestre anterior e 3,1% face ao trimestre homólogo. Tanto em Itália como em Espanha, concorrentes diretos do calçado português, o crescimento homólogo ficou aquém da média da União.
As estatísticas de comércio externo disponíveis indicam que, em 2023, se registaram fortes quebras nas importações de calçado de vários dos principais importadores mundiais. Em particular, quando avaliadas em euros, as importações da Alemanha terão caído 16%, as do Reino Unido 20% e as dos EUA, o principal importador mundial, 32%.
Forte melhoria no 2º trimestre
Já as previsões para o segundo trimestre de 2024 são mais favoráveis, apontando para uma evolução positiva da produção e uma estabilização das encomendas. “A previsão para o estado dos negócios apresenta também uma forte melhoria, mas as previsões pessimistas das empresas de menor dimensão implicam que se mantenha globalmente negativa”, pode-se ler no referido documento.
“Importa realçar que o setor do calçado está muito dependente da evolução dos mercados externos, para onde exporta mais de 90% da sua produção”, recorda Luís Onofre. Para o Presidente da APICCAPS, “as empresas portuguesas têm feito investimentos significativos nas áreas da automação, digitalização e sustentabilidade, procurando assim assegurar novos ganhos competitivos”. “Esperamos que a recuperação economia internacional se comece a efetuar já na segunda metade deste ano”, sublinhou.
Recorde-se que o Fundo Monetário Internacional publicou em abril as suas mais recentes perspetivas sobre a economia mundial. Em 2023, a economia mundial deverá ter crescido 3,2%, apenas um pouco menos do que no ano anterior. No entanto, deu-se um forte abrandamento na área euro, destino predominante das exportações portuguesas de calçado, que cresceu apenas 0,4%. A economia da Alemanha, principal mercado das nossas exportações, recuou mesmo -0,3%. Ainda assim, globalmente, o FMI faz uma leitura positiva da situação.