As grandes marcas de calçado desportivo estão a trocar a produção no mercado asiático pelo português. O balanço foi feito pelo presidente da Associação Portuguesa Indústria de Calçado e Componentes Artigos Pele Sucedâneos (APICCAPS) ao jornal Eco.
Luís Onofre, presidente da APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos, citado pelo Eco, afirma que a procura das grandes marcas europeias e americanas pelo mercado português tem sido “brutal”, e que se tem feito sentir “sobretudo na zona de Felgueiras, que está especializada neste tipo de produção”, notando-se uma “deslocalização nítida da China e de outros países asiáticos”.
Segundo o presidente da APICCAPS, as “dificuldades logísticas”, a “subida dos custos de transporte” e a “tendência para cadeias de abastecimento mais curtas”, estão entre os motivos principais para esta escolha, salientando que “os custos que acarretam são enormíssimos e compensa produzir na Europa”. Quanto à procura por Portugal, Luís Onofre referiu que esta se deve à “qualidade”, à “rapidez da entrega”, e às “circunstâncias atuais”, uma vez que, hoje em dia “os prazos para as entregas têm de ser mais curtos e cada vez mais a moda é efémera. E Portugal consegue fazer tanto séries pequenas como grandes produções”.
Também em declarações ao jornal Eco, João Pinto, responsável do departamento comercial da fábrica de calçado Joséli, confirmou que “há muitas marcas grandes, key players, que no último ano procuraram Portugal, movendo as suas produções da China, do Vietname e da Índia. Ou tentaram. Uns conseguiram, outros não. É um dos motivos pelo qual a maior parte das empresas está lotada e tem a capacidade produtiva preenchida a 100%, sobretudo aqui na zona de Felgueiras”. “Ao virem para Portugal e encherem o mercado de trabalho, isso afetou os fornecedores [das fábricas] que não conseguem entregar os produtos a tempo”, afirma.
Entre as consequências sentidas, João Pinto destaca a triplicação dos “prazos de entrega, mesmo que cerca de 80% dos materiais utilizados sejam comprados em Portugal”, e esclarece “até podemos ter mais encomendas, mas só conseguimos produzi-las passados três ou quatro meses devido a estes problemas de escassez e aumentos dos preços das matérias-primas”, como solas, borrachas ou termoplásticos. João Pinto acrescenta ainda a dúvida de que “esta seja uma procura por duas ou três estações e depois, quando as coisas voltarem ao normal, esses clientes voltem para os países onde produziam anteriormente”. Com o disparo da procura estrangeira, a subcontratação no país tornou-se mais cara. “Para colmatar este problema e reduzir a dependência externa”, a estratégia da empresa felgueirense passou pela compra de duas empresas de costura em Felgueiras e em Guimarães, subindo assim o efetivo de 180 para 240 pessoas.