Fundado em 1988, o Grupo Desportivo e Recreativo de Friande (GDR Friande) é muito mais do que um clube de futebol. Com 36 anos de história, é um reflexo do esforço, da paixão e da união de uma comunidade. Sob a liderança de José Teixeira há 16 anos, o GDR Friande conta atualmente com equipas de futebol e futsal, com 22 e 12 jogadores respetivamente, competindo no campeonato da Associação de Modalidades Amadoras de Fafe (AMAF). Chegou um momento em que tive de assumir a presidência e continuo até hoje porque gosto, é uma família e já não me vejo sem ela.
A ligação de José Teixeira ao GDR Friande começou dentro das quatro linhas: “Joguei fora do Friande, mas a direção da altura tentou reunir toda a gente da terra para formar a equipa, e vim para cá. Estive como jogador até aos 34 anos, mas um acidente de trabalho impediu-me de continuar. Depois disso, comecei a fazer parte da direção. Chegou um momento em que tive de assumir a presidência porque também era a pessoa que já estava por dentro dos assuntos do clube. Fiquei e continuo até hoje porque gosto, é uma família e já não me vejo sem ela. Eu quero é que o Friande seja cada vez mais”.
O dirigente considera que “não é fácil ser presidente de qualquer clube, especialmente de um clube como o Friande. Há muito trabalho, vive-se muito de apoios, da ajuda das pessoas. Felizmente, nesse ponto não me posso queixar, mas tem de se gostar disto”. Para José Teixeira, “em primeiro lugar está o Friande, faço questão de estar sempre nos treinos e nos jogos, seja de futebol ou futsal. Os jogadores sabem que eu não falho”.
Isto faz com que grande parte do seu tempo esteja ocupado, e o presidente admite que “se a minha família não colaborasse, não era possível”. Embora inicialmente não tenha sido fácil, foi um caso de “se não os consegues vencer, junta-te a eles”. Foi assim que a esposa de José, Fátima, ou a “presidenta” como é apelidada carinhosamente, e a filha, Joana, se tornaram parte essencial do GDR Friande. “Tenho a sorte de a minha filha fazer parte da direção e gostar tanto daquilo como eu. E a minha mulher está sempre disponível para ajudar”.
Joana Teixeira descreve a sua ligação ao clube: “O meu pai sempre fez parte, e nós em casa acabamos por nos envolver por causa dele. Eu ando aqui desde pequenina, há jogadores que andaram comigo ao colo. Como nós costumamos dizer, somos uma família”. Independentemente de o clube ganhar ou perder, “os jogadores sabem que têm uma família que os apoia, seja no futebol ou em qualquer outro problema. E é isso que torna o Friande diferente dos outros clubes”, explica.
Filha e mãe tomam conta do bar nos dias de jogo em casa, mas Joana salienta que a mãe “é quem faz as bifanas, quem trata das bebidas, de tudo para termos o stock para os jogos. Quando há lanches ou jantares, é a minha mãe a responsável. Havendo treinos, é quem vem abrir a porta, porque o meu pai tem outros afazeres”, sublinha. Fátima, a “presidenta”, resume o espírito do clube com simplicidade: “Quem faz com gosto, não dá trabalho”.
José Teixeira partilha o sentimento de que o GDR Friande é uma verdadeira família: “Mesmo as pessoas que não são da família de sangue acabam por fazer parte dela. Sozinho, eu não conseguia ir para a frente. A minha filha é o meu braço direito, trata de tudo, desde as inscrições dos jogadores até à contabilidade. A minha esposa ajuda em tudo o que é preciso, está sempre lá para os jogadores, abre a porta do campo, prepara as refeições quando temos convívios. É esse ambiente que faz com que os atletas fiquem no Friande durante muito anos.”
Os jogadores não ganham nada para estar aqui. Então nós temos de compensá-los com estas pequenas coisas, e também é aí que a família entra em ação.
José Teixeira
O espírito de união que se vive no GDR Friande reflete-se em detalhes que fazem a diferença. Os convívios regulares após os jogos ajudam a que os atletas se sintam parte de algo especial. “Os jogadores não ganham nada para estar aqui. Pelo contrário, têm despesas porque vêm nos carros deles. Então nós temos de compensá-los com estas pequenas coisas, e também é aí que a família entra em ação”, conta o presidente.
No GDR Friande “é habitual acabar o jogo e fazermos uma churrascada ou um jantar, e passarmos uma hora ou duas todos juntos. Vamos ter em breve o jantar de Natal, em que vamos ser quase 100 pessoas. Os jogadores não vão pagar, claro, fica a cargo do clube. Mas nós temos de fazer alguma coisa para os cativar para eles continuarem na equipa. Eles gostam destes convívios e sentem-se bem uns com os outros. É esta união que faz a diferença.”
Quanto a apoios, José Teixeira reconhece que, felizmente, nesse aspeto o GDR Friande não está mal servido: “Temos apoios da Junta de Freguesia de Friande e da Câmara Municipal de Felgueiras. A Junta começou a perceber melhor a visibilidade que o Friande traz à freguesia, especialmente com as provas da Federação de Futebol Popular do Norte. Mesmo assim, não conseguíamos sobreviver só com esses subsídios”, explica o dirigente. “Patrocinadores e sócios são essenciais, e temos sorte com o apoio de entidades locais, como o Rancho Folclórico de Santo André de Friande, que nos empresta uma carrinha para ir buscar os jogadores de longe que temos na equipa.”
Quanto a momentos felizes, José Teixeira recorda “a final da Supertaça em Fafe. Acabámos por perder, mas foi o ponto mais alto do Friande. Tivemos o apoio de 30 a 40% da freguesia, o que foi algo fora do normal. Ver tanta gente de Friande a apoiar foi incrível.” Apesar disso, para o dirigente, mais do que os momentos de glória, o que o motiva é o grupo de pessoas que encontra no Friande. “Nós damos tudo o que conseguimos aos jogadores, claro que gostávamos de dar mais, mas financeiramente é complicado”, desabafa.
José Teixeira admite que ponderou inscrever o GDR Friande na Associação de Futebol do Porto, mas a mudança envolveria desafios estruturais que o clube não ia conseguir suportar. “No primeiro ano, não havia problemas, mas, no segundo, precisávamos de um campo com outras condições. Para isso, não vou. Não quero andar de malas às costas.” Apesar disso, o presidente mantém o desejo de um dia levar o clube a esse nível: “Se me surgissem condições para avançar, claro que o desejo da equipa era esse.”
O clube também tem enfrentado desafios. Recentemente, a saída do treinador, do adjunto e do capitão da equipa abalou a estrutura. “Foi complicado, nunca tinha passado por algo assim. Era uma equipa técnica que estava connosco há seis anos e um capitão que estava há sete. Teve impacto na equipa, mas temos de continuar. O clube tem de seguir em frente”, afirma o dirigente.
Infelizmente, não temos grandes apoiantes dentro da freguesia, e acho que deviam dar-nos um bocadinho mais de valor.
Joana Teixeira
A relação do GDR Friande com a freguesia tem sido um desafio, mas José Teixeira vê uma evolução: “Agora já temos 100 a 150 pessoas nos jogos em casa, o que é muito bom”. Apesar disso, Joana Teixeira desabafa que, “infelizmente, não temos grandes apoiantes dentro da freguesia, e acho que deviam dar-nos um bocadinho mais de valor. Além disso, grande parte dos jogadores não é de Friande”. O pai afirma que, realmente, “a grande maioria dos jogadores não é de Friande. Temos mais no futsal do que no futebol. Mas temos jogadores que já foram embora e vieram outra vez, porque sentem-se bem aqui. E isso para mim é gratificante”.
O que motiva José Teixeira a continuar no GDR Friande é o orgulho pelo crescimento do clube e o reconhecimento do trabalho das gerações anteriores. “Todos os presidentes que passaram pelo Friande fizeram o que podiam, e o clube nunca parou desde 1988. Temos muitos clubes em Felgueiras que fecharam ou ficaram abandonados, mas o Friande nunca fechou portas e tem crescido. É isso que me deixa mais contente e me faz continuar, porque essas pessoas merecem que o clube não acabe”.
Apesar das dificuldades, o GDR Friande continua a crescer e a sonhar. O dirigente tem planos para o futuro, incluindo a criação de escalões de formação: “Acho que a freguesia e o clube, da maneira que está a crescer, merecem. Penso que chegou a hora de darmos esse passo, porque temos condições para isso.”
O futebol popular deve ser para todos. Todas as crianças devem ter o direito de jogar, quer joguem bem ou mal.
José Teixeira
No entanto, José Teixeira quer um projeto que garanta que todas as crianças tenham acesso ao futebol, independentemente das suas condições financeiras ou de horários familiares. “O futebol popular deve ser para todos. Todas as crianças devem ter o direito de jogar, quer joguem bem ou mal. Se não for assim, não quero”, afirma. Para o dirigente, o futebol deve ser uma atividade complementar, respeitando sempre os estudos e a vida familiar.
José Teixeira já garantiu treinadores voluntários e os apoios necessários para a formação, mas falta um ponto essencial: uma carrinha para transportar as crianças. “Se o futebol é para todos, tenho de ter isso. Neste momento, é esse o único ponto que me falta resolver. Mas o grande objetivo é arrancar já na primavera do próximo ano”.
O GDR Friande é muito mais do que um clube, é uma verdadeira família unida pelo desporto e pela vontade de crescer. E enquanto houver pessoas como José Teixeira, Fátima, Joana e tantos outros que dão o melhor de si, o Friande continuará a ser mais do que um clube. Será sempre uma família.