Felgueiras é o 11.º concelho em Portugal com a menor proporção de lixo separado para reciclagem, com apenas 9% dos resíduos urbanos a serem separados para este fim. Os dados foram recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), e referem-se ao ano de 2022. A nível nacional, a média situa-se nos 23%.
Comparando com os concelhos limítrofes, Fafe regista uma taxa de 22%, Vizela 20%, Guimarães 21%, Amarante 17%, Celorico de Basto 11% e Lousada 11%. A nível distrital, apenas Paredes iguala os 9% de Felgueiras, enquanto todos os outros concelhos têm uma taxa superior.
No último lugar, surge o concelho de Mogadouro, onde apenas 6% dos resíduos são urbanos recolhidos seletivamente. Na lista, segue-se Montalegre, Cinfães, Alijó, Freixo de Espada à Cinta, Vimioso, Vinhais, Almeida, Alpiarça e Salvaterra de Magos, vindo depois o concelho de Felgueiras
No extremo oposto, o concelho das Lajes das Flores, localizado no arquipélago dos Açores, registou a melhor performance no país, com 53% dos resíduos urbanos a serem recolhidos seletivamente. Seguem-se os concelhos da Vidigueira, Vila Franca do Campo, Cadaval e Lagoa (R.A.A.).
Falta de iniciativa e infraestruturas justificam estes números
Marta Ferreira, engenheira do Ambiente, e CEO da MRF Consultoria Ambiental, explica ao Felgueiras Magazine que “as diretivas europeias que estabelecem as metas de valorização e os limites de deposição em aterro datam de 2018. Foram estabelecidas três datas para monitorização do nosso esforço, 2025, 2030 e 2035.”
A engenheira do Ambiente considera que “os municípios em geral continuam a empurrar os problemas para a frente por temerem adotar medidas que lhes podem custar votos. A justificação anda sempre à volta da não existência de financiamento, no entanto, no caso de Felgueiras em particular, o que falta acima de tudo é iniciativa”, salientando que “enquanto as prioridades não estiverem voltadas para o que realmente interessa, iremos continuar nos lugares do fundo, no que respeita à reciclagem”.
Como exemplo, Marta Ferreira fala da freguesia de Margaride: “Há zonas em que é necessário andar mais de 0,5 km para poder depositar os resíduos nos ecopontos do papel, plástico e vidro. Quando as pessoas têm de fazer essas distâncias de carro, perdem a vontade de reciclar, porque não é prático”. Já no que toca biorresíduos ou óleos alimentares usados, “falta implementar todo um sistema de recolha. Há zonas do país onde os resíduos já são recolhidos, seletivamente, porta a porta”.
Câmara de Felgueiras implementa estratégias para melhorar gestão de resíduos
Questionado pelo Felgueiras Magazine, o Município de Felgueiras reconhece que, “apesar do esforço já realizado no terreno para captura e encaminhamento de materiais para valorização, existe ainda um potencial considerável de resíduos valorizáveis na fração indiferenciada.” No entanto, realça que os dados mostram “uma trajetória ascendente no que respeita à recolha seletiva de resíduos urbanos.”
A autarquia afirma que “desde 2020 à data, o Município de Felgueiras tem executado ações de recolha seletiva de resíduos, com a implementação de recolha porta-a-porta na União das Freguesias de Margaride, Várzea, Lagares, Varziela e Moure, e freguesia Pombeiro, de tratamento na origem de biorresíduos com o Projeto de compostagem doméstica ‘Biobairros’, de recolha de resíduos perigosos decorrentes de medicação injetável de autocontrolo e tratamento (seringas, lancetas e outros) em parceria com os Centros de Saúde do concelho, assim como ações de promoção e sensibilização, tais como ação de sensibilização de separação de resíduos nos espaços das Feiras e Mercados, recolha gratuita de monos e monstros, e apoio às certificações ambientais (resíduos) nas iniciativas desportivas de âmbito nacional como o Rally de Portugal.”
“Para os próximos anos e em alinhamento com as metas do Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU) 2030, o Município de Felgueiras concebeu um plano de ação (PAPERSU) em análise pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), que agrega um conjunto de medidas que visam dar cumprimento às obrigações plasmadas no Regime Geral da Gestão de Resíduos (RGGR), no que respeita designadamente à implementação da recolha seletiva de biorresíduos e de outros fluxos de resíduos. Assim o referido plano estratégico contempla um conjunto de medidas, quer associadas à prevenção da produção de resíduos, quer à promoção da separação na origem e valorização dos resíduos produzidos.”
Além disso, “está prevista a requalificação do ecocentro da Várzea com o objetivo de promover a circularidade, por via da reutilização de têxteis, mobiliários e equipamentos elétricos e eletrónicos, e a realização de campanhas anuais de informação e sensibilização no âmbito do combate ao desperdício alimentar.”
Em matéria de recolha, “a estratégia do Município de Felgueiras passa pela implementação da recolha seletiva de biorresíduos alimentares, quer porta-a-porta em produtores residenciais e não residenciais, quer através de contentores de proximidade. Está igualmente previsto o reforço da recolha de biorresíduos verdes através da colocação de equipamentos coletivos em locais estratégicos como cemitérios, jardins e locais já identificados como depósitos recorrentes de resíduos de verdes (manutenção de jardins e outros).”
Ainda no âmbito dos biorresíduos, “o Município prevê também a expansão da compostagem doméstica a novas habitações até 2030. Adicionalmente, e em complemento aos atuais esquemas de recolha multimaterial, é intenção do Município proceder à construção de dois novos Ecocentros em locais estratégicos de maior proximidade à população dos centros urbanos da Lixa e Idães, e à implementação de um ecocentro móvel.”
“Está igualmente prevista a implementação de um sistema de recolha de têxteis e o reforço da rede de recolha seletiva de OAU, atualmente com 42 oleões. As ações de cariz mais operacional, serão complementadas com a utilização de ferramentas TIC, a revisão do Regulamento Municipal do Ambiente e respetivas tarifas, assim com a aplicação do princípio do poluidor-pagador.”
Para terminar, autarquia ressalva que “para que os projetos equacionados no PAPERSU sejam perfeitamente concretizados é fundamental a participação ativa e informada da população, razão pela qual o plano delineado considera também medidas direcionadas para a comunicação e sensibilização da população.”