De acordo com dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações de calçado portuguesas tiveram uma quebra de 36% em abril, comparando com o mês de março. Venderam-se menos 68 milhões de euros neste período.
Comparando abril de 2023 com o período homólogo de 2022, a quebra no valor das exportações também foi expressiva: -21% do valor das exportações, correspondendo a menos 31 milhões de euros.
Recorde-se que os valores das exportações de calçado relativas ao primeiro trimestre de 2023 (janeiro a março) foram positivos para o setor do calçado. Apesar de um decréscimo de 4,96% em quantidade, verificou-se um aumento de 7,5% em valor. Nos primeiros 3 meses do ano, Portugal exportou 526 milhões de euros em calçado.
“As encomendas nos últimos meses são mais pequenas, e que as marcas de moda e o retalho estão a evitar, a todo o custo, ter stocks altos de calçado nos armazéns. O ano de 2023 está a ser um ano difícil para o setor do calçado, em especial comparando com 2022, que foi um ano onde Portugal bateu recordes de exportações”, conta Patrícia Covita, Economista numa empresa de Felgueiras do setor do calçado.
Pedro Fonseca, Economista e diretor do Felgueiras Magazine, explica que a redução do rendimento disponível das famílias, associado à inflação, é uma das principais causas desta quebra nas exportações de calçado. “A forma mais eficaz que os governos têm para combater a inflação é através da austeridade: menos dinheiro para as famílias, para as empresas e menores gastos do estado. Os salários reais têm vindo a baixar e não acompanham o aumento dos preços, pelo que as famílias ficam com menos rendimento disponível. Por outro lado, também as subidas da taxa de juro, uma outra medida de combate à inflação, fazem com que muitos agregados familiares tenham menos dinheiro todos os meses“, explica.
“Com menos dinheiro disponível, há uma menor procura por bens e serviços. Nestes casos, os consumidores tendem a focar o seu consumo em bens essenciais, em detrimento de outros bens, como o calçado ou o vestuário“, sublinha Pedro Fonseca.
Pedro Fonseca prevê uma segunda metade do ano de 2023 difícil para o calçado. “A Zona Euro está em recessão, com destaque para a Alemanha, o principal mercado de destino do calçado português. As taxas de juro deverão continuar a subir este ano. Espera-se, contudo, que a inflação continue a abrandar, e que a quebra nos salários reais na Europa não seja tão grande no início de 2024 como foi este ano“, dando assim um sinal de retoma da economia europeia.