Em 2023, a indústria portuguesa de calçado enfrentou uma significativa quebra nas exportações. Os dados indicam que foram exportados 66 milhões de pares de calçado, num total de 1839 milhões de euros. Esta performance traduz-se numa diminuição de 11,3% em quantidade e de 8,2% em valor, em comparação com o ano anterior, apesar de um aumento de 3,45% no preço médio por par, que se fixou em 27,70 euros.
O sector foi particularmente afetado pelo fraco desempenho da economia alemã, que registou uma quebra de 5,6%, correspondendo a 406 milhões de euros. Outros mercados europeus também registaram recuos significativos, nomeadamente os Países Baixos (-13,7% para 259 milhões de euros), Reino Unido (-9% para 115 milhões de euros) e Dinamarca (-28,5% para 71 milhões de euros).
A indústria portuguesa de calçado viu igualmente interrompida a trajetória de crescimento no mercado norte-americano, recuando 11,3% para 101 milhões de euros. Recorde-se que os EUA foram, de resto, o grande mercado à escala mundial com pior desempenho.
“A boa notícia é que o ano de 2023 já passou. Temos a expectativa de que a recuperação económica de alguns dos nossos principais mercados, crie oportunidades para as empresas portuguesas já este ano”, afirmou Paulo Gonçalves, porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).
Entre os dois grandes blocos económicos, assinala-se um recuo das importações de calçado na ordem dos 30% nos EUA (dados finais) e de 11% na Europa (dados de outubro), com destaque, pela negativa, para as quebras de 16% na Alemanha, 13% no Reino Unido e 11% em França.
Em resultado, todos os grandes players do setor terminaram 2023 altamente penalizados pelo abrandamento económico a nível mundial.
Os cinco principais produtores mundiais de calçado, respetivamente China (quebra de 13% na totalidade o ano), Índia (recuo de 17% nos primeiros 11 meses do ano), Vietname (perda de 17% até novembro), Indonésia (menos 19% até novembro) e Brasil (queda de 11% na totalidade do ano) registaram perdas muito expressivas em 2023. Em conjunto, estes cinco países asseguram praticamente 80% da produção mundial, o equivalente a 19 mil milhões de pares de calçado. Já Portugal, recuou 8,2%.
“O abrandamento económico internacional, em particular em mercados de grande relevância como a Alemanha, a França ou os Estados Unidos penalizou fortemente o setor do calçado no plano externo”, considera Paulo Gonçalves. “A indústria portuguesa de calçado exporta mais de 90% da sua produção, pelo que está sempre dependente da evolução dos principais mercados externos”, sublinhou o porta-voz da APICCAPS. “Trata-se no essencial de um problema de mercado: a pouca procura e o excesso de stocks no mercado condicionou a atividade exportadora portuguesa”, concluiu.
Componentes para calçado, artigos de pele e marroquinaria registam crescimento
Apesar destes desafios, a fileira de calçado e artigos de pele em Portugal apresentou sinais de resiliência e capacidade de adaptação. No último ano, o cluster exportou um total de 2.222 milhões de euros, uma diminuição de 5,1% em relação ao ano anterior. No entanto, o setor de artigos de pele e marroquinaria registou um crescimento de 14%, alcançando os 310 milhões de euros, enquanto o segmento de componentes para calçado viu um aumento de 13,6% nas suas vendas externas, atingindo os 73 milhões de euros.
“Temos vindo a consolidar o cluster de calçado e de artigos de pele em Portugal”, defendeu Paulo Gonçalves. Em resultado, no âmbito do Plano Estratégico, há a intenção de investir 600 milhões de euros até final década. “É o nosso maior sinal de confiança: independentemente dos ciclos conjunturais, acreditamos nas empresas e no seu potencial”.