Autor: Pedro Fonseca
Mestre em Economia | Diretor do Felgueiras Magazine
diretor@felgueirasmagazine.pt
Portugal viu as suas exportações de calçado atingirem um marco histórico no primeiro semestre de 2023, de janeiro a junho, registrando um valor acumulado recorde de 1 003 187 997 euros, conforme revelam os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE). No entanto, por trás desses números aparentemente positivos, a indústria enfrenta desafios significativos relacionados com a quantidade de pares exportados e com a dinâmica interna do setor e também da economia global.
De acordo com o INE, o valor das exportações de calçado no primeiro semestre deste ano representou um aumento de 1,6% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Pela primeira vez, as exportações de calçado no primeiro semestre do ano ultrapassaram os mil milhões de euros em vendas.
No entanto, e considerando ainda o primeiro semestre de 2023, os dados também revelam uma queda de 7,3% na quantidade de pares de calçado exportados em relação ao ano anterior, totalizando cerca de três milhões de pares a menos. Isso levanta preocupações entre as empresas do setor, que já estavam apreensivas com o cenário atual.
“Apesar do aumento em termos de valor, a diminuição no número de pares exportados é um sinal de alerta. O aumento do valor das exportações está, em parte, relacionado com a inflação e com os custos crescentes de produção. Além disso, a valorização natural do calçado português também contribui para esse crescimento“, disse Patrícia Covita, Mestre em Economia, sobre este aspeto contraditório das estatísticas.
Patrícia Covita apontou ainda para a situação dos recursos humanos e capacidade produtiva. Ele observou que o setor iniciou 2023 com os mesmos recursos humanos e físicos de 2022. “O ano de 2022 foi excecional para as exportações de calçado português, e dificilmente se repetirá. Foi um ano onde a indústria do calçado investiu na capacidade produtiva e na contratação de recursos humanos para dar resposta ao elevado volume de encomendas. Neste momento, as fábricas de calçado estão sobredimensionadas face à procura ‘normal’ do mercado. Será natural que as fábricas se reestruturem, incluindo no número de pessoal ao serviço. Nos últimos meses, algumas empresas já têm começado essa reestruturação, com a não renovação dos vínculos de trabalhadores temporários”, alertou.
O ambiente do setor é de cautela. A indústria do calçado portuguesa navega por águas desafiadoras. O aumento no valor das exportações é uma conquista notável, mas os números divergentes quanto à quantidade de pares exportados e as complexidades internas e externas do setor lançam uma sombra de incerteza sobre o futuro.