Muitos de nós, Felgueirenses, gostaríamos de fazer como o nosso Presidente da República, e ficar em isolamento por causa do novo coronavírus, mas não podemos. Ganhamos 635€ por mês, ou pouco mais, e temos que ir trabalhar. Para além disso, a economia não pode parar. Seria o caos para o concelho. Espero que não chegue a esse ponto.
Mas, esta decisão de autoisolamento profilático de Marcelo Rebelo de Sousa teve o mérito de alertar a população e instituições para a realidade preocupante da situação que vivemos, especialmente em Felgueiras e Lousada. Confio na ação das autoridades de saúde nacionais, que tiveram a situação do Covid-19 em Itália como exemplo (o que fazer e o que não fazer). Eles são especialistas, eu não. Por isso sigo à risca as recomendações e orientações da Direção Geral de Saúde, sendo que prefiro medidas de prevenção e contenção por excesso do que por defeito. Se for preciso, e se tal ajudar a conter a epidemia, isole-se o concelho todo!
Nem vou falar das preocupações com a saúde. Essas estão sempre em primeiro lugar! Mas preocupa-me também a economia, caso o surto de Covid-19 não seja contido rapidamente. Tendo como exemplo o que se passa em Itália, preocupa-me o pequeno comércio e serviços. Os clientes vão escassear. Em Felgueiras já é notório uma diminuição de clientes em cafés, restaurantes. Alguns estabelecimentos já fecharam, temporariamente. Sem clientes, como é que as pequenas empresas vão pagar os salários, a renda, a luz, a água, os serviços de contabilidade, os empréstimos bancários…
Preocupa-me ainda mais a indústria do calçado. O encerramento de uma fábrica por motivos de quarentena pode ter efeitos muito severos para a empresa. É a partir de abril/maio (e até julho/agosto) que a nossa indústria mais trabalha, quando há mais encomendas. Fábricas paradas neste período colocam em causa os resultados anuais das empresas e a sua viabilidade económica. As linhas de apoio que o governo tem disponível para as empresas fazerem face ao Covid-19, ajudam a tesouraria das nossas indústrias, mas não resolvem o problema.
Depois, é necessário ter visão mais global. O surto do Covid-19 espalha-se a grande velocidade na União Europeia, o destino de mais de 90% das nossas exportações de calçado. E se os alemães, italianos, espanhóis, franceses, holandeses ficarem em casa por causa do novo coronavírus (em quarentena, como o nosso Presidente da República), não compram os nossos sapatos. As nossas fábricas precisam de encomendas, e a nossa economia precisa de estabilidade.