Em entrevista à APICCAPS, Vitor Mendes, sócio gerente da ISI Soles, empresa felgueirense que se dedica à produção de componentes para calçado, considera que o ano de 2021 vai ser “de muita exigência e resiliência” para o setor do calçado, prevendo que o setor “continue a sofrer quebras, podendo estas quebras atingir valores superiores a 2020”. Espera também que “2022 seja, novamente, um ano de crescimento”.
O empresário considera “positivas” as medidas de apoio do Governo às empresas, em especial as moratórias e das linhas de crédito, estando preocupado com “os pagamentos quando as moratórias terminarem ou a obrigação em manter os postos de trabalho”.
[Pandemia] – “A primeira preocupação consistiu em criar condições para que todos os nossos funcionários trabalhassem em segurança”;
[Apoios do governo] – “As medidas iniciais foram positivas”;
[Expectativas para 2021] – “É previsível que o setor continue a sofrer quebras”;
[Indústria Portuguesa] – “O nosso Capital Humano é único e a nossa capacidade de resposta tecnológica é ímpar”;
[“Bazuca” Europeia] – “Muito pertinente serão apoios que nos permitam aumentar a competitividade através da redução de custos, como apoios à eficiência energética”;
Leia a entrevista na integra:
No ano que findou, as empresas foram testadas ao limite. Que soluções encontrou para minimizar os efeitos da pandemia?
A primeira preocupação consistiu em criar condições para que todos os nossos funcionários trabalhassem em segurança, tanto na empresa como em casa (nos casos em que o teletrabalho foi possível). O objetivo era que todos se sentissem seguros, permitindo, desta forma, que se mantivessem focados e produtivos no seu trabalho. O facto da ISI Soles não ter recorrido ao layoff foi mais uma decisão que ajudou a assegurar a produtividade, uma vez que garantimos o rendimento de todos os nossos funcionários, dando-lhes mais segurança, confiança e otimismo. Durante todo este tempo aceitamos todos os desafios propostos pelos nossos clientes. Com a nossa equipa sempre pronta e focada, conseguimos prestar sempre um serviço rápido e eficaz. Nunca fechamos as nossas portas. Encontramos alternativas tecnológicas para entrar em contacto com os clientes.
Que avaliação faz às medidas apresentadas pelo Governo?
As medidas iniciais foram positivas. A nossa empresa, como muitas outras, beneficiou das moratórias e das linhas de crédito. O processo, em si, poderia ser mais célere, mas permitiu manter a liquidez de muitas empresas.
Agora, as dificuldades que muitos empresários vão enfrentar é a manutenção das obrigações associadas aos apoios. Seja os pagamentos quando as moratórias terminarem ou a obrigação em manter os postos de trabalho, para os empresários é muito difícil neste momento prever o que vai acontecer no curto prazo. Num cenário de quebra económica prolongada no setor, por exemplo, pode não ser exequível a manutenção dos requisitos.
Neste momento, faltam ainda mais medidas de apoio diretos às empresas. A carga fiscal, por exemplo, continua muito alta e devia ser aliviada.
Que expectativas tem para o ano de 2021?
O ano de 2021 vai ser de muita exigência e resiliência. É previsível que o setor continue a sofrer quebras, podendo estas quebras atingir valores superiores a 2020. Uma vez que a nossa indústria trabalha sobretudo com o mercado europeu, tudo vai depender da evolução da pandemia e de eventuais lockdown nos diversos países. Internamente estamos na expectativa em manter os valores de 2020, esperando que 2022 seja, novamente, um ano de crescimento. Em 2021 vamos ter de prever o imprevisível.
O que tem a indústria portuguesa para oferecer aos seus clientes?
Temos um cluster preparado para atender a todas as exigências. O nosso Capital Humano é único e a nossa capacidade de resposta tecnológica é ímpar. São grandes vantagens competitivas, a que se somam a nossa flexibilidade e capacidade de reação rápida, atributos bem patentes neste momento pandémico. Para além disso, somos a Indústria mais Sexy da Europa, não é verdade?
Este ano, o nosso país começa a beneficiar de um pacote extraordinário de medidas de apoio, a famosa «bazuca europeia». Que expectativas tem relativamente a esse pacote de medidas?
A “bazuca” poderá ser uma excelente notícia para as empresas. Poderá permitir alavancar o negócio. Contudo, a “bazuca” tem de chegar rápido às empresas. Os processos devem ser céleres, menos burocráticos. As empresas não podem esperar, por exemplo, 6 por uma decisão. 6 meses é muito tempo no mundo dos negócios, onde as circunstâncias e a conjuntura mudam rapidamente. Para além dos apoios à produção, internacionalização, será determinante a continuação da aposta na indústria 4.0.
Muito pertinente serão apoios que nos permitam aumentar a competitividade através da redução de custos, como apoios à eficiência energética.
Se do ponto de vista do negócio, o ano de 2020 foi particularmente difícil, o que mudou na sua vida pessoal nestes últimos meses?
Neste momento tudo é imprevisível. Todos os dias somos obrigados a tomar novas medidas e decisões para ajustar os imprevistos diários. Foi um ano muito exigente quer para mim, como empresário, quer para os nossos colaboradores. Mais do que nunca, todos, na nossa empresa, tivemos que estar disponíveis e, diariamente, encontrar respostas para problemas que nunca imaginávamos enfrentar. Pessoalmente tem sido desgastante, mas, ao mesmo tempo, revigorante, dada a excelente resposta que toda a equipa da ISI Soles tem dado aos desafios que o ano de 2020 nos trouxe.
Saudade foi a palavra eleita pelos portugueses para resumir o ano der 2020. De que sente mais saudades?
Tenho saudades de ver o rosto das pessoas, dos sorrisos e das expressões.
Fonte: APICCAPS