Marisa Reis, natural de Jugueiros, freguesia onde permanece até hoje, iniciou o seu percurso profissional aos 16 anos numa fábrica de calçado, à semelhança do que acontecia na altura com muitos dos jovens do concelho. “Embora fosse uma das melhores alunas da turma, tive de ir trabalhar para ajudar a minha mãe “, conta. O sonho de estudar Direito ficou para trás, mas o destino reservava-lhe algo diferente.
Foi por acaso que Marisa atendeu a chamada de uma escola em Guimarães, que estava a promover cursos de cabeleireiro e estética. “Quando me falaram do curso de esteticista, numa altura em que a estética ainda era uma coisa muito recente, pensei ‘porque não?’”, relembra. Matriculou-se no curso e, durante oito meses, “ia de Gilera para Guimarães à noite, quer chovesse, quer fizesse sol”.
A seguir ao curso, a jovem começou a dar os primeiros passos por conta própria, visitando as casas das clientes com uma mera cesta de vernizes e uma máquina de aquecer cera. Aos 18 anos, depois do convite de uma cabeleireira de Jugueiros, alugou o seu primeiro espaço, conciliando o trabalho na fábrica com a estética. “Ia lá à noite e ao sábado, era melhor do que ir à casa das pessoas e ter que levar todo o material”, explica. Foi assim que começou “a ganhar mais clientela” e, com a reconstrução da casa da mãe, surgiu o seu primeiro espaço, onde Marisa trabalhou durante os seis anos que se seguiram.
Apesar dos desafios de ter dois trabalhos em simultâneo, foram 10 anos a trabalhar na fábrica, a estética foi-se afirmando na sua vida, até que a maternidade a fez reavaliar as suas prioridades: «O meu marido disse-me: “Chega, tu não tens tempo para a menina, ou deixas ou vais de ‘caras’”. E foi aí que decidimos arriscar e abrir um espaço», lembra Marisa Reis, assinalando o nascimento da SB Estética Avançada.
A empresária recorda que, «na altura, as pessoas diziam: “Tu vais investir o teu dinheiro e nem cabelos fazes”, porque para elas, um cabeleireiro ainda se justificava, mas uma esteticista? A fazer unhas e a tirar pelos?!». Porém, essa descrença nunca a desmotivou. “Tinha uma gana enorme”, afirma, e foi essa força e resiliência que a guiaram no seu percurso.
Sobre a localização da loja, Marisa confessa que evitou o centro de Felgueiras devido a um certo “receio de menina da aldeia”. Optou por abrir o espaço numa zona mais afastada, mas ainda perto do centro, onde permanece há quase 15 anos. A empresária considera que essa escolha não a prejudica, pois quando as clientes “gostam e querem determinado serviço, deslocam-se. Hoje em dia, as pessoas andam de carro para todo o lado e gostam de estacionar à porta”.
Relativamente aos serviços mais procurados, as unhas continuam a liderar, seguidas das massagens de relaxamento e tratamentos de pele e corpo, cada vez mais populares. A empresária destaca o aumento de homens a recorrer a serviços de estética, desde unhas e limpezas de pele, a maquilhagem para disfarçar olheiras e depilações a laser: “Os homens estão cada vez mais vaidosos”, comenta.
Hoje, com mais de 20 anos de experiência no ramo, Marisa Reis garante que a qualidade se sobrepõe a tudo o resto. “A nossa diferença está no profissionalismo e no estudo constante. Nós sabemos exatamente o que estamos a fazer”, sublinha. É este acompanhamento cuidadoso, durante e após o tratamento, que marca a diferença.
A realidade é que trabalhar no ramo da estética vai muito além dos tratamentos e serviços oferecidos: envolve criar laços com as pessoas. “Servimos de psicólogos às vezes”, diz, lembrando que muitas das suas clientes a acompanham há 20 anos. Há, no entanto, histórias difíceis: “Há clientes de longa data que têm problemas de saúde e nos deixam, e custa-nos”, confessa, refletindo sobre o impacto emocional destas relações com os clientes.
Entre os momentos mais marcantes da sua carreira, Marisa destaca o dia em que conseguiu dedicar-se exclusivamente à estética: “Foi uma alegria enorme. Poder dedicar-me completamente à estética e trabalhar para mim foi o melhor”. Mas nem tudo foi fácil. O ano de 2020 trouxe um dos momentos mais difíceis: “Abrimos o novo espaço, que foi um ampliar do anterior, e uma semana depois tivemos de fechar por causa do COVID. Foi assustador”.
A empresária aborda ainda as dificuldades dos pequenos empresários: “Às vezes queremos dar um passo maior, mas os apoios bancários e governamentais falham”. Sobre o apoio ao comércio local em Felgueiras, comenta que “é tudo muito central”. “Na periferia, temos que levantar a cabeça e fazer algo, não há grande ajuda”, explica, mencionando que os eventos e incentivos se concentram no centro da cidade.
Quanto ao que falta em Felgueiras, Marisa Reis identifica a falta de união como uma das principais lacunas: “Acho que precisamos de mais união entre as pessoas”, afirma, notando que muitas pessoas ainda procuram serviços em cidades como Guimarães ou Porto, acreditando que a qualidade está apenas “lá fora”. Na sua opinião, é essencial contrariar essa ideia e valorizar o que é local, que é “igualmente bom ou até melhor”.