Autor: Pedro Fonseca
Mestre em Economia | Diretor do Felgueiras Magazine
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O que os governos tentam é encontrar um equilíbrio entre saúde e economia. A prioridade da Autoridade de Saúde é evitar a rotura dos hospitais (“achatar a curva da pandemia”) e não erradicar o vírus, que só se conseguirá com uma vacina ou com a imunidade de grupo. Vamos conviver com o vírus durante muitos meses!
Se a Covid-19 faz vítimas mortais, a situação de miséria da população que a crise económica irá trazer também as vai fazer. É por isso também importante minimizar o impacto económico nas famílias. E não há dinheiro para ter 10 milhões de portugueses em casa em isolamento e a receber salários e apoios sociais.
Poderá estar a chegar a pior crise económica das nossas vidas! As previsões atuais indicam que, no fim da pandemia, Portugal poderá estar com uma taxa de desemprego entre os 10% e os 15%. São números assustadores. Quer o Estado, quer as empresas, quer as famílias, vão passar por momentos de sufoco!
Ana Mendes Godinho, Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, ouvida em sede da Comissão de Trabalho e Segurança Social no passado dia 15 de abril afirmou haver naquele momento já 17 mil empresas portuguesas em layoff, estando cerca de 930.000 trabalhadores abrangidos por esta situação. O layoff é uma ferramenta utilizada pelos empresários para manter os postos de trabalho durante este período de pandemia. No entanto significa uma perda de rendimento líquido para as famílias: aos trabalhadores é garantido em layoff 66% do seu salário, com limite mínimo de 635 €, mas o subsídio de alimentação não é devido durante o período.
O sector do calçado já verificava um abrandamento em 2019. Esta pandemia veio agravar a situação das empresas. Os empresários são confrontados diariamente com cancelamentos ou suspensões de encomendas e muitos já estão a recorrer ao layoff. Sendo um sector virado sobretudo para a moda a expectativa é que a retoma seja lenta.
Neste momento, em que a curva epidemiológica está a estabilizar, é ainda mais importante que as fábricas continuem a trabalhar. Só assim vamos conseguir superar a segunda “guerra” que teremos de enfrentar este ano: a guerra económica. Haja é encomendas para as nossas fábricas!
O que se exige aos empresários, nesta altura, é tornem os locais de trabalho o mais seguros possíveis e que adotem as melhores práticas de prevenção contra a Covid-19: espaçamento entre colaboradores, disponibilização de desinfetante, teletrabalho sempre que possível, uso obrigatório de máscaras, as empresas que ofereçam transporte aos funcionários devem reduzir a lotação da viatura a um terço… Algumas destas medidas representam um esforço extra para as empresas, numa altura já complicada. São tempos de exceção, e os empregados devem também fazer um esforço e ajudar as empresas onde trabalham.
Se era a solução ideal fechar as fábricas? Claro que sim. Mas não há dinheiro. Seria correr o sério risco de colocar milhões de portugueses em situação de desemprego e miséria.
A saúde deve vir em primeiro lugar; a economia pode vir mais tarde. Mas não pode vir muito mais tarde.