A entrevista recente de Décio Pereira, CEO da Vapesol, à APICCAPS, trouxe uma análise sobre os desafios que o setor de calçado enfrenta desde 2020, refletindo sobre o impacto da pandemia e as expectativas para o ano que agora começa.
Segundo o empresário, o setor do calçado viveu um período de forte desaceleração devido a uma série de distorções provocadas pela pandemia, com impactos “em vários setores, desde logística a produção, matérias-primas, serviços ou finanças”.
Apesar de 2022 ter sido um ano de retoma, “excelente”, o consumo começou a fraquejar em 2023, motivado pela “inflação e consequente imposição de um aumento das taxas de juro”. Décio Pereira afirma que “em 2023 a população teve menos poder de compra e os hábitos de consumo modificados, logo há menos necessidade de produção, nomeadamente de sapatos”.
O CEO da Vapesol salienta que “destruir uma estrutura, uma economia, um produto, pode ser rápido e basta um acontecimento anómalo. Mas para criar são precisos anos”. No entanto, o empresário mantém uma visão positiva para o futuro: “Acredito que a retoma é possível”.
Em 2025, a Vapesol vai investir 2 milhões de euros na segunda fase de ampliação da sua unidade de produção de EVA. Nesse âmbito, o CEO sublinha a necessidade de os empresários do setor tomarem decisões “muito bem ponderadas e acertadas”, se querem ver a esperada retoma.
Sobre as expectativas para o ano que começa, Décio Pereira afirma que o cenário continuará difícil, mas que as empresas devem continuar a olhar para o futuro com coragem. “Temos de ter sempre a coragem dois passos à frente do medo. Sempre com os pés bem assentes no chão”.
No que diz respeito à recuperação dos mercados internacionais, o CEO da Vapesol acredita que o “Made in Portugal” será um grande diferencial: “É sinónimo de garantia de um produto potencialmente de qualidade superior”.
Décio Pereira considera que Portugal está em vantagem pela proximidade geográfica com a Europa, oferecendo “um cluster imenso num raio de 50/60 km onde há de tudo de qualidade e rápido. Tudo isto agregado a um bom serviço e preços competitivos, são elementos muito importantes para a nossa indústria do calçado”, destaca.
Para o empresário, a combinação destes fatores é essencial para que as empresas portuguesas, “afim de podermos sair desta teia que nos abraçou e da qual temos de nos desfazer”, conclui.