Autora: Ana Margarida Ferreira
Engenheira do Ambiente
O dióxido de carbono (CO2) é o gás de efeito de estufa mais responsável pelas alterações climáticas [1]. O CO2 sai da atmosfera, por exemplo, através da fotossíntese das plantas ou dissolvendo-se no oceano. Enquanto que mais de metade do CO2 produzido pelos seres humanos deixa a atmosfera dentro de um século, cerca de 20 % permanece na atmosfera por muitos milhares de anos [2].
Isto significa que grande parte do CO2 libertado há décadas atrás, ainda está na atmosfera, e o CO2 que libertámos hoje pode estar presente na atmosfera durante milhares de anos [1,2]. Este é um problema de justiça intergeracional. Simplificando, atualmente a queima de combustíveis fósseis beneficia as pessoas, à custa do bem-estar das gerações futuras. Isto levanta questões de “justiça climática”. É necessário equilibrar os direitos das pessoas vivas com os direitos das gerações futuras.
Uma visão dominante de justiça climática é que cada pessoa ou país deve ter o direito de emitir uma certa quantidade de gás de efeito de estufa e deve pagar por algo que exceda esse valor. Posteriormente, estes fundos devem ser usados para projetos que impeçam as alterações climáticas ou que permitam que seja possível adaptar-se a estas alterações. Isto é o chamado de “princípio do poluidor-pagador” [1].
No entanto, este princípio tem uma falha. Considera as emissões de pessoas que já não estão vivas para pagar [1]. No passado, o país com mais emissões desde 1751 foi os EUA, responsável por 25% das emissões históricas. Atualmente o maior emissor é a China. No entanto, continua em segundo lugar nas emissões históricas e apenas emitiu metade do total dos EUA [3].
Os jovens ativistas são em parte alimentados pela injustiça entre as gerações. Os potenciais efeitos devastadores das mudanças climáticas serão sentidos em décadas por pessoas que atualmente são jovens e principalmente pelas futuras gerações que, apesar de ainda não terem nascido, já têm um débito enorme com o planeta.
As emissões de gases com efeito de estufa é apenas uma das pontas do icebergue do problema. Quantas pessoas atualmente banalizam o simples ato de fazer reciclagem? Quantos aterros estão a ficar sobrelotados porque muita gente entende que já paga um imposto e por isso não tem obrigação de dar o destino mais adequado aos resíduos? Quanto mais lixo terá que acabar nos oceanos? Quantos mais sinais de alerta terão que surgir para que comecemos a pagar o débito que temos com o nosso planeta?
[1] https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/13698230.2013.810395?casa_token=o739DOJ4W74AAAAA%3AbWlO6JHeiV9tXB_FXZpFKL4nP1oOy0XMidnhI3wkdVIASrbZdIMqiKyyR58gD49BlQ1W_WcHjoERHg The problem of past emissions and intergenerational debts. See: The problem of past emissions
[2] https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/05/ar4_wg1_full_report-1.pdf Climate Change 2007, The Physical Science Basis, IPCC 2007. See: If Emissions of Greenhouse Gases are Reduced, How Quickly do Their Concentrations in the Atmosphere Decrease?
[3] https://ourworldindata.org/co2-and-other-greenhouse-gas-emissions#cumulative-co2-emissions CO2 and Greenhouse Gas Emissions, Our World in Data 2019. See: Cumulative CO2 emissions