Catarina Moreira Meireles, tem 31 anos e é natural da Refontoura, em Felgueiras. Licenciada em Psicologia, e Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, é atualmente proprietária do Gabinete de Psicologia “Mente Consciente”, sediado na Maia.
Nesta entrevista exclusiva ao Felgueiras Magazine, Catarina Meireles aborda os temas da depressão e da ansiedade, ajuda a perceber em que situações se deve procurar ajuda/apoio psicológico, e esclarece toda a verdade por trás do mito “quem vai ao psicólogo é louco ou um fraco”. Para os pais, ficam também alguns conselhos úteis sobre a exposição infantil à internet, bem como a importância do autocuidado emocional.
Felgueiras Magazine – Em que situações devo procurar ajuda/apoio psicológico?
Catarina Meireles – Deve procurar acompanhamento psicológico em qualquer situação, que considere emocionalmente impactante para si, e que está a colocar em risco o seu bem-estar, e qualidade de vida. O acompanhamento psicológico tem inúmeros benefícios, nomeadamente no desenvolvimento pessoal através do autoconhecimento e da consciência das suas emoções, que propicia uma maior resiliência face aos obstáculos da vida.
Apesar do leque alargado, existem situações especificas em que o acompanhamento psicológico é crucial. Os mais comuns no acompanhamento que faço na Mente Consciente são: o luto, ansiedade, depressão, fobias, problemas familiares e de relacionamento, desenvolvimento de competências (inteligência emocional, resiliência, autoestima, autoeficácia, motivação, comunicação, autoconhecimento, entre outras), compulsões alimentares, burnout e adições.
Felgueiras Magazine – Mito ou realidade: “quem vai ao psicólogo é louco ou um fraco”.
Catarina Meireles – Mito. Peço que reflitam acerca das seguintes questões: Faz análises/exames de rotina, com que frequência? Com que frequência procura um médico? Imagine que apresenta um mau estar físico, o que faz? A psicologia NÃO É uma crença que se pode ter ou não ter. A psicologia é uma ciência, com base cientifica sólida, e uma profissão de saúde reconhecida. Ou seja, é a resposta mais adequada para o tratamento de doenças mentais, problemas emocionais, e desenvolvimento pessoal.
Com a mesma normalidade que nos preocupamos com a nossa saúde física, é importante adotarmos o mesmo comportamento no cuidar da saúde mental. Imagine o seguinte exemplo: alguém que parte uma perna, faria sentido dizer: “Bem, não deves ir ao médico, isso é para fracos. Resolve sozinho”. A psicologia “não é para loucos ou fracos” a psicologia é para quem pretende melhorar/cuidar da sua saúde mental.
Felgueiras Magazine – Os últimos dois anos foram marcados por uma pandemia, e mais recentemente uma guerra. Quais as consequências que estas adversidades podem causar, e como reagir às mesmas?
Catarina Meireles – Vivemos tempos difíceis. O clima de insegurança provocada pela pandemia e agora pela guerra na Ucrânia, podem aumentar ou agravar os problemas emocionais, nomeadamente a ansiedade e/ou depressão.
Muitos dos sintomas que sentimos neste momento, são ajustados. É natural estarmos mais preocupados, tensos e stressados face a esta insegurança, e à iminência de uma crise económica. Contudo, é sem dúvida fundamental adotarmos comportamentos que possam proteger o nosso bem estar emocional como: limitar a exposição a notícias, falar com familiares e amigos, manter uma rotina, realizar atividades de lazer, investir no autocuidado, manter uma atitude positiva, estar atenta/o aos sinais e pequenas mudanças no comportamento, e pedir ajuda (acompanhamento psicológico) nas situações em que os seus pensamentos/emoções estão a prejudicar negativamente a sua qualidade de vida.
Felgueiras Magazine – Vivemos numa era digital, marcada pela exposição infantil à internet. O que aconselha aos pais no que diz respeito ao uso da internet?
Catarina Meireles – Nos eventos familiares, em casa, no restaurante, os aparelhos tecnológicos e o uso da internet tornaram-se parte da nossa rotina. É impossível negar ou ignorar a sua importância/relevância, mas não devemos “normalizar”, e esquecer as possíveis consequências a médio, e a longo prazo.
A dependência digital tem vindo a aumentar a passos largos. Tenho sentido um aumento significativo dos pedidos de ajuda face a esta problemática. É crucial estarmos atentos aos sinais das crianças/adolescentes como: perda de interesse em participar em atividades que não estejam relacionadas com o on-line, manifestação de comportamentos agressivos e/ou agitação contínua, mudanças de humor frequentes, desempenho escolar e relacionamentos sociais deteriorados acentuadamente, desobediência constante, sono desequilibrado (de manhã apresenta sinais de cansaço extremo), menor interesse nas relações sociais, entre outros. Se o seu/sua filho/a apresenta alguns destes sinais, sugiro o contacto com um/a psicólogo/a que que possa avaliar a situação e aconselhar devidamente.
Para além de estamos todos atentos a estes sinais, sugiro a todos os pais a implementação de algumas estratégias, como: definir limites diários e supervisionar frequentemente, educar sobre o uso da internet, falar sobre os riscos da internet/jogos, não usar o telemóvel na cama, manter o computador fora do quarto, incentivar a realização de atividades lúdicas, entre outras. Relembro que prevenir é sempre melhor que remediar.
Felgueiras Magazine – “Autocuidado emocional” nos adultos é um termo ainda pouco explorado. Explique-nos o que é, e de que forma se pode refletir na nossa vida.
Catarina Meireles – O autocuidado desempenha um papel crucial na manutenção da saúde mental. O conceito de autocuidado, implica cuidar de si física, mental e emocionalmente. Por mais simples que possa parecer, muitos de nós prestam pouca atenção ao autocuidado (mas devemos), pois isso afeta a nossa saúde mental.
O autocuidado não é apenas “recomendado” para aqueles que lutam com doenças mentais/problemas emocionais, mas sim para todos nós, uma vez que é a forma mais eficaz de prevenir o aparecimento de doenças/patologias. Encontrar um meio pessoal de autocuidado é importante para manter a sua saúde mental. É fundamental reservar tempo para si e para o seu bem estar, para recarregar energias para que possa estar no seu melhor, e desenvolver resiliência para lidar com o stress/desafios da vida.
A ferramenta essencial do autocuidado é o aumento da autoconsciência. Praticar a autoconsciência vai ajudar a reconhecer padrões emocionais, incluindo situações que podem desencadear o agravamento de sintomas/desequilíbrio emocional. Para isso, deve identificar quais as atividades ou tarefas necessárias que promovam o seu bem estar, que possam aliviar sintomas negativos de um problema emocional/stress, ou simplesmente usufruir do prazer e/ou relaxamento.
Peço que reflitam, como é que os seus hábitos atuais a/o fazem sentir? (agora mais consciente, talvez tenha algumas alterações a fazer). Adotar técnicas de autocuidado na sua rotina diária, não é apenas vital para saúde mental. As investigações sugerem que quanto mais praticamos atividades de autocuidado, mais confiantes, criativos e produtivos seremos. Para além de que experienciamos mais alegria, tomamos decisões mais adequadas, construímos relacionamentos mais fortes/saudáveis, e comunicamos com mais eficácia. As ferramentas de autocuidado são inúmeras, e cabe a si a escolha do que funciona melhor para si, do que faz mais sentido mediante o seu contexto e rotina.
Recorrer à terapia também é considerado autocuidado, uma vez que permite a aprendizagem de ferramentas e criação de hábitos saudáveis para a prevenção da doença mental, e intervenção/gestão dos problemas emocionais. O estado da nossa saúde mental depende da forma como cuidamos dela. Por isso, cuide de si com amor.