A indústria portuguesa de calçado iniciou 2025 com resultados animadores, exportando no primeiro trimestre 20 milhões de pares, correspondentes a 453 milhões de euros. Em comparação com o período homólogo do ano passado, verifica-se um aumento de 4,9% em quantidade e 5,4% em valor.
“O sentimento predominante nas fábricas de calçado portuguesas é, de forma geral, positivo neste início de ano. A maioria das unidades industriais regista um aumento no volume de encomendas em comparação com o mesmo período de 2024. A Alemanha começa agora a dar alguns sinais — ainda que tímidos — de recuperação, o que poderá ter um impacto favorável na economia europeia também no calçado português”, afirmou Pedro Fonseca, economista e diretor do Felgueiras Magazine. O economista acrescenta, com alguma cautela, que o setor “poderá estar a caminho da normalidade”, após um período marcado por quebras significativas nas encomendas.
Luís Onofre, Presidente da APICCAPS, mostra-se otimista com estes números, considerando que se trata de “um início do ano muito promissor, num contexto internacional particularmente difícil”. A Europa mantém-se como o principal mercado para o calçado português, absorvendo 18 milhões de pares entre janeiro e março, um crescimento de 6,6%, traduzido em receitas de 382 milhões de euros (mais 8,3%).
Entre os mercados europeus, destacam-se os desempenhos positivos na Alemanha (aumento de 18,8% para 114 milhões de euros), França (crescimento de 1,3% para 96 milhões de euros) e Espanha (subida expressiva de 31% para 46 milhões de euros). Em contrapartida, regista-se uma preocupação relativamente ao mercado dos Países Baixos, que apresentou um recuo de 5,6%, totalizando 49 milhões de euros.
Fora da União Europeia, o Reino Unido continua a revelar um desempenho positivo, com um aumento de 9%, atingindo os 27 milhões de euros. No entanto, os mercados dos Estados Unidos e Canadá apresentaram recuos de 12,7% e 14%, respetivamente.
Os EUA são atualmente a maior preocupação para o setor devido à incerteza gerada pelo anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a aplicação de novas taxas alfandegárias. Luís Onofre sublinha a importância estratégica deste mercado: “Ainda que já exportemos mais de 90% da produção para 170 países, consideramos o mercado norte-americano estratégico e a grande aposta da indústria portuguesa de calçado para a próxima década. O momento atual é preocupante, mas não vamos abandonar o mercado.”
Recorde-se que os Estados Unidos representam o sexto maior mercado das exportações portuguesas de calçado, com vendas anuais próximas dos 100 milhões de euros.
No global, Luís Onofre mantém-se confiante quanto ao desempenho do setor para o restante do ano: “Ainda que haja muitas variáveis a contaminar o comércio mundial, no setor do calçado há a expectativa de 2025 ser um ano de consolidação do calçado português no exterior, onde já assumimos uma posição relevante”.