A indústria do calçado português, conhecida mundialmente pela qualidade, inovação e design, vive momentos desafiantes. Após um desempenho excecional em 2021 e 2022, o setor enfrentou um forte abrandamento em 2023, resultado de fatores como inflação elevada, taxas de juro altas, excedentes de stock e uma recessão na principal economia europeia, a Alemanha. Este cenário evidencia a dependência das exportações de calçado das condições económicas dos mercados internacionais.
A economia europeia, principal destino das exportações de calçado português, enfrenta um crescimento anémico. A Alemanha, motor da economia da UE, prevê um ligeiro recuo de 0,1% em 2024, embora seja esperado um crescimento de 0,7% em 2025. O aumento do consumo interno alemão em 2025, impulsionado pelo aumento dos salários reais, poderá representar uma oportunidade para o setor, mas a prudência que caracteriza o mercado germânico exige uma abordagem cautelosa e estratégica.
Já Espanha apresenta-se como um mercado promissor, com um crescimento económico de 3,0% projetado para 2024, moderando para 2,3% em 2025. Proximidade geográfica e vantagens logísticas tornam este mercado particularmente atrativo. Por outro lado, França e Reino Unido mostram desempenhos mais modestos, mas ainda relevantes para o setor, exigindo atenção redobrada às suas dinâmicas económicas e políticas.
Fora da Europa, os EUA oferecem um quadro de crescimento robusto, com previsões de 2,7% em 2024 e 2,1% em 2025. As políticas comerciais, especialmente as taxas aduaneiras, podem favorecer o calçado português em detrimento das importações asiáticas. É um mercado de alto potencial, mas com incertezas associadas às eleições presidenciais, que podem alterar drasticamente as condições comerciais.
Perante este panorama, a diversificação dos mercados de exportação surge como um imperativo estratégico. Mercados emergentes na América do Sul apresentam oportunidades significativas, oferecendo uma alternativa aos mercados tradicionais que enfrentam crescimento lento.
O setor do calçado português precisa de adotar uma abordagem proativa e adaptativa. A aposta na inovação, sustentabilidade e diversificação de mercados será essencial para capitalizar sobre as oportunidades que surgirem, mitigando os riscos das economias mais instáveis. A resiliência do setor, testada ao longo dos anos, continuará a ser a sua maior força para navegar num cenário económico global incerto.
Felgueiras, como coração da indústria do calçado em Portugal, tem a responsabilidade e o privilégio de liderar este movimento de adaptação e crescimento, reforçando o posicionamento do país como referência no mercado global.
*Fonte dados de macroeconómicos: European Economic Forecast - Autumn 2024