É na Avenida Dr. Ribeiro Magalhães, em Felgueiras, que encontramos um dos cafés mais antigos e tradicionais da cidade, com “mais de cinquenta anos”, e que vai atualmente no “quatro proprietário”. “Um familiar de França comprou o café, e veio para cá viver. Mais tarde voltou para França, e foi o meu pai que ficou com o café há cerca de 30/35 anos”. Quem o diz é Cristina Monteiro, que em conjunto com os dois irmãos mais novos, Luís e Julian Monteiro, gere o café Bocage.
Cristina Monteiro revela que esteve em “várias áreas”, mas que a sua paixão sempre foi “organização de empresas”. Quanto à oportunidade de assumir as responsabilidades do café, conta que a mesma terá surgido após se aperceber que o pai estava cansado daquela vida, uma vez que “não tinha férias”. Sugeriu-lhe que os três irmãos ficassem a tomar conta do café, e agora, diz a empresária, “os três conseguimos conciliar o trabalho, e apoiarmo-nos uns aos outros“.
É com nostalgia que Cristina recorda que “desde os meus 11 anos que ando aqui. O café não era assim. Era uma tasca, um café de homens, um espaço pequenino, com uma adega muito grande. Ao longo dos anos, fomos evoluindo, fizemos obras, e agora, não tem nada a ver. Entra qualquer pessoa aqui, enquanto que, antigamente, não entravam mulheres”.
A diferença é um dos pontos fulcrais do sucesso que o café Bocage tem adquirido junto dos felgueirenses. “Nós queremos servir o cliente a vários níveis. Não é só entrar no café, e pedir um café”, esclarece a gerente. “Nós ajudamos as pessoas a pagar faturas, portagens, e temos também os jogos Santa Casa há mais de 40 anos”.
Cristina Monteiro comenta que um dos momentos mais marcantes da sua vida foi o dia em que “nós os três comprámos o café ao nosso tio. Foi uma conquista familiar”. Quanto a um dos momentos mais difíceis, aponta a época do confinamento: “não tivemos qualquer ajuda por parte da Câmara ou de associações”.
A gestora acredita que Felgueiras apoia o comércio local, no entanto, defende que “é insuficiente”. “Aqui há muitos cafés, muitos negócios, mas as pessoas vão e vêm”, diz.
Quando o tema é “arrependimento” de alguma atitude menos acertada enquanto profissional, Cristina Monteiro afirma confiante que “tudo é uma evolução”, pois apesar de ser empresária “há poucos anos”, desde pequena que “sabia onde queria trabalhar”. A proprietária sublinha que “fez sentido este percurso”, porque agora “isto é nosso”, garantindo ainda que tudo funciona graças à “firmeza” do irmão mais novo, Luís Monteiro, e do irmão do meio, Julian Monteiro, que “é o motor“ do Bocage.
Ao falar sobre a sua infância, Cristina Monteiro revela que “quando era adolescente passava aqui os meus verões. Não tínhamos férias“. Sublinha, no entanto, que agora dá “muito valor a tudo”, e que, por esse motivo, gostava que “as gerações seguintes continuassem o nosso negócio, não necessariamente os meus filhos, mas gostava que ficasse na família”.
Cristina explica que o Bocage tem “um ambiente muito familiar, em que as crianças que vêm com os pais, entram pelo balcão dentro, e temos de os pegar ao colo”. Muitos clientes são “fixos, daqueles que já sabemos o que querem”, outros “vêm ler o jornal diariamente”, e também há inúmeros “clientes de passagem”.
Quando questionada acerca do que falta em Felgueiras, a administradora manifesta o desejo de um “parque da cidade, aqui no centro”, bem como “um pavilhão multiusos, que seria ótimo quer a nível empresarial, quer para receber concertos”. Comenta que a sua filha de 14 anos diz que “não sabe o que fazer ao fim de semana”.
No Bocage poderá deliciar-se com alguns snacks como “sandes, torradas, pregos no pão, kebabs“. Para os mais gulosos, o café tem uma pastelaria diversificada, onde a principal atração são as “Bolinhas du Bocage”, conhecidas como “ as melhores bolas de Berlim da zona”. Cristina esclarece que a ideia surgiu “em época de confinamento”, e que “felizmente, tem sido um sucesso”.