No episódio mais recente de “O Mais Famoso Podcast Sobre Calçado!”, Pedro Fonseca, diretor do Felgueiras Magazine, teve como convidado António Ferreira, CEO da Bolflex, uma das mais importantes e conceituadas empresas europeias na produção de solas de borracha para a indústria do calçado, destacando-se pela sua aposta contante em inovação e sustentabilidade. Com mais de três décadas de experiência, a Bolflex lidera a produção de solas de borracha na Península Ibérica, tendo também linhas de produção de outros materiais tasci como EVA’s, termoplásticos e PU’s.
O Grupo Bolflex é constituído também pela Rubberlink, dedicada à reciclagem e valorização de resíduos e desperdícios industriais, bem como a marca de moda My Cute Pooch. Ao todo, o grupo Bolflex emprega cerca de 190 colaboradores.
António Ferreira realçou os desafios que a indústria de calçado enfrentou no passado recente, especialmente em 2023, ano que descreveu como “arrasador” para o setor. “Foi um ano muito triste, muito complicado”, confessou. O empresário identificou “um excesso de stocks de 2022 e atrasos nas produções desse ano” como fatores que motivaram a crise. O CEO da Bolflex destacou as consequências da pandemia para os empresários: “De uma certa forma, fomos enganados, porque meteram-nos muito dinheiro pela porta dentro e, tal como nos créditos à habitação, os juros subiram drasticamente, provocando uma crise”.
Pelos projetos que nós temos e pelo que vou ouvindo, penso que 2025, com certeza absoluta, será melhor do que 2024”.
António Ferreira
Apesar das dificuldades no início de 2024, António Ferreira afirma que está a ser “um bom final de ano” para a Bolflex e para a indústria de calçado. A tão esperada normalidade pode mesmo estar a chegar no próximo ano de 2025: “Eu não posso falar das empresas em geral. Mas pelos projetos que nós temos e pelo que vou ouvindo, penso que 2025, com certeza absoluta, será melhor do que 2024”.
O empresário realçou que “o método de negócios está a mudar”, e que a rapidez e flexibilidade em termos de quantidades são essenciais, especialmente no contexto do comércio online, que exige capacidade de resposta quase imediata. O CEO da Bolflex explicou que “nas vendas online não há stocks. Quem não estiver preparado, não tiver um chão de fábrica como deve ser, terá dificuldades.”
António Ferreira ressalvou que a Bolflex, tal como o setor do calçado de Felgueiras no geral, trabalha para “as marcas que estão a surgir, os sapatos diferentes, direcionados mais para os jovens. Quem procura quantidade vai para a Ásia, porque nós não temos preços, nem capacidade de produção”.
Valorização dos trabalhadores: o caminho para a competitividade e sustentabilidade das empresas
A Área de Acolhimento Empresarial do Alto das Barrancas, onde vão nascer empresas como a Coloplast e a Somfy, criando cerca de 1600 postos de trabalho, também foi tema de conversa. Pedro Fonseca abordou a questão dos salários, realçando que uma das empresas já “anunciou que o salário mínimo será pelo menos 80€ superior ao salário mínimo nacional, e o subsídio de alimentação também será superior ao da indústria do calçado”, questionando se isto seria um problema para o setor do calçado em Felgueiras.
Os líderes têm que estar atentos a estes sinais. Se querem continuar com as empresas, têm que fazer um bom produto, e para isso têm que ter bons colaboradores.
António Ferreira
António Ferreira realçou a valorização dos colaboradores da Bolflex, revelando que uma das razões do sucesso da empresa é a sua preocupação com as condições dos colaboradores: “Temos cerca de 90% das pessoas a receber muito acima do salário mínimo”, salientando que também é por esse motivo que tem “um bom chão de fábrica”. “Procuramos que não lhes falte nada a nível de ambiente, a nível de conforto”, acrescentou.
O CEO da Bolflex sublinhou que “os líderes têm que estar atentos a estes sinais. Se querem continuar com as empresas, têm que fazer um bom produto, e para isso têm que ter bons colaboradores. E tem de se cobrar por esse produto para poder pagar a quem trabalha. Se isto não acontecer, as empresas morrem, porque a oportunidade de trabalho é grande, e não falta quem queira os bons trabalhadores”. Por esse motivo, o empresário considera que, para “quem não tiver esta visão e esta cultura, as coisas talvez se compliquem”.
Inovação e sustentabilidade como pilares de sucesso na indústria do calçado
Pedro Fonseca destacou o facto de a Bolflex ser “um nome que na indústria do calçado todos associam a inovação e a sustentabilidade”. O diretor do Felgueiras Magazine lembrou que, “curiosamente, muitos anos antes de a questão de a sustentabilidade do setor do calçado começar a ser falada, já a Bolflex estava a dar passos na valorização dos resíduos, incorporando-os nas solas”.
António Ferreira recordou que no final dos anos 90 recebeu a visita de investigadores alemães “que já traziam material desvulcanizado”. Sendo o próprio quem carregava o desperdício da produção de solas para a lixeira, sentia que “aquilo [o desperdício] era algo que não devia de acontecer”, explicou, contando como a ideia de valorização dos resíduos foi ganhando forma até à criação da Rubberlink em 2013.
No entanto, não foi um caminho fácil. O empresário apontou que “não havia nenhuma base” onde pudesse suportar-se para fazer face ao desperdício. Apesar de ter encontrado vários obstáculos, não desistiu, e há cerca de 10 anos finalmente viu a luz a fundo do túnel: “Encontrei umas pessoas que se juntaram a mim, engenheiros, e começámos o nosso caminho. Acho que é inacreditável estarmos a enterrar uma coisa que é nobre, que é rica” – os desperdícios das solas.
António Ferreira recordou que há uns anos ninguém se preocupava com a sustentabilidade: “Eu era quase maltratado! Achavam que era uma coisa impossível. Só desde há 2/3 anos é que estou a notar a preocupação”. Este esforço culminou no registo recente de uma patente europeia e americana para o inovador processo de vulcanização da Bolflex, um feito que o empresário descreveu como “um presente muito grande face àquilo que passei para a conseguir.”
Já a preparar uma nova geração para liderar o grupo Bolflex, António Ferreira ambiciona um futuro em que a Bolflex continue a ser “uma referência a nível nacional e internacional”. “Já tenho aqui uma segunda geração, que me orgulha muito, e que se calhar vão conseguir fazer um trabalho ainda melhor que o meu. Estão com uma vontade muito grande de vencer, com umas ideias fantásticas”, partilhou, orgulhoso.
A Bolflex aposta continuamente na inovação, e o CEO da Bolflex realçou a importância do software de gestão “feito à medida” que a empresa utiliza, permitindo um controlo minucioso e em tempo real da produção, contribuindo para uma gestão eficiente e uma tomada de decisões informada. “Sabemos, em tempo real, o que é que entra, a nível de encomendas; o que é que consumimos; o que é que compramos; o que é que cada colaborador produz; e o que é que a empresa está a gerar hora e dia por secção”, detalhou.
Hoje em dia, ser empresário em Portugal, ou é o louco ou é o ignorante.
António Ferreira
Ser empresário em Portugal: desafios e compromissos
No final da entrevista, António Ferreira expressou ainda as dificuldades e a complexidade de ser empresário em Portugal, criticando o sistema de apoios que, na sua opinião, “são bons para quem é rico, para quem não precisa”. Num cenário empresarial cada vez mais desafiante, o CEO da Bolflex descreveu a realidade de ser empresário em Portugal de forma incisiva: “Hoje em dia, ser empresário em Portugal, ou é o louco ou é o ignorante. Porque se as pessoas souberem a realidade do que é ser patrão, as pessoas não se estabelecem.”
Para concluir a conversa, António Ferreira reiterou o seu compromisso com o concelho e o desejo de contribuir para o seu desenvolvimento: “Espero que Felgueiras aproveite algumas coisas daquilo que foi aqui conversado, e que estejam atentos. Porque Felgueiras é Felgueiras, e no que depender de mim será sempre Felgueiras.”
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