Autora: Patrícia Covita
Mestre em Economia
Os mais recentes dados divulgados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) revelam um cenário preocupante para o mercado de trabalho em Felgueiras. Entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, o número de desempregados inscritos no IEFP registou um aumento de 59%. Um indicador alarmante que reflete o impacto negativo da quebra do consumo interno e das exportações no município.
De acordo com os dados fornecidos pelo IEFP, em janeiro de 2023 havia 1524 inscritos no centro de emprego de Felgueiras. No mesmo período de 2024, esse número saltou para 2420, o que representa um crescimento significativo de 59%. É importante realçar que esse número pode ser ainda maior, uma vez que não inclui indivíduos que, por já não receberem subsídio de desemprego, deixam de estar inscritos, mas continuam em busca de oportunidades de emprego.
O impacto negativo da conjuntura económica desfavorável é notório no setor industrial português. De acordo com dados do Ministério do Trabalho fornecidos ao Jornal de Negócios, cerca de 76% dos pedidos de lay-off registados no país em dezembro têm origem nos setores industriais. Segundo dados do GEP, em janeiro de 2024 estavam 598 empresas em Portugal em lay-off, mais 200,05% do que em janeiro de 2023. Em janeiro de 2024 estavam 10.890 trabalhadores abrangidos pelo lay-off em janeiro de 2023 eram 3.473.
O setor do calçado, uma das bases da economia local, está a enfrentar grandes desafios. Durante o ano de 2023, assistimos ao encerramento de 56 empresas, resultando na perda de 1.361 postos de trabalho em toda a indústria, marcando uma reviravolta em relação a 2022, quando o setor tinha gerado mais de 3.000 empregos.
Em Felgueiras, os dados fornecidos pelo IEFP revelam que um total de 1.975 trabalhadores foram despedidos ou viram os seus contratos não renovados ao longo de 2023, em comparação com 1.092 em 2022. Embora não tenhamos informações específicas sobre a origem desses trabalhadores, dadas as circunstâncias prevalecentes no setor do calçado, é razoável supor que uma parte significativa provenha dessa mesma indústria.
A complexidade do cenário empresarial é patente, com a escassez de encomendas e o aumento dos custos a obrigar os empresários a reestruturarem e redimensionarem as suas operações. Este período exige uma abordagem cautelosa, uma vez que são necessárias medidas meticulosas para garantir a viabilidade das empresas. Torna-se crucial que o governo apoie as empresas neste processo de reestruturação, visando preservar o maior número possível de postos de trabalho, através, por exemplo, do reforço dos apoios concedidos através do lay-off. Adicionalmente, importa salientar que, no passado, várias empresas beneficiaram de incentivos fiscais: a condição era não recorrer a despedimentos coletivos ou à extinção de postos de trabalho durante um período de três anos. O não cumprimento destas condições implica a reposição do benefício com uma penalização de 15%, o que pode agravar ainda mais a situação financeira de uma empresa já fragilizada, potencialmente resultando em mais despedimentos. Seria importante uma intervenção a este nível do nosso Governo.
Apesar dos desafios enfrentados, os empresários mantêm uma visão otimista para o segundo semestre de 2024, antecipando uma recuperação económica. Agora, resta-nos aguardar com esperança e confiança, enquanto o concelho de Felgueiras enfrenta uma das maiores crises económicas dos últimos anos, na expectativa de que estas previsões se tornem realidade.