Autora: Patrícia Covita
Mestre em Economia
A implementação da Área de Acolhimento Empresarial (AAE) do Alto das Barrancas em Felgueiras representa uma janela de oportunidades que vai muito além da mera construção de infraestruturas ou de novas mega fábricas. Este projeto tem o potencial de se tornar um marco na história económica de Felgueiras, mas para isso, é necessário ir além do óbvio.
Em novembro de 2022 foi aprovada a elaboração de um Estudo Estratégico da AAE do Alto das Barrancas. Contudo, as questões deste estudo resumem-se ao ordenamento, mobilidade e impacto ambiental, que embora importantes, são apenas o começo. O verdadeiro desafio está em transformar este investimento físico em valor económico ainda mais palpável e sustentável para a região.
A criação de valor económico na AAE do Alto das Barrancas em Felgueiras tem de ir muito além da mera construção de infraestruturas físicas, como pavilhões e estradas. Este conceito engloba a capacidade de potenciar e explorar oportunidades geradas pelos investimentos físicos, resultando num impacto económico sustentável e de longo prazo para a região.
A criação de clusters industriais e comerciais bem articulados em Felgueiras é um ponto chave. Não basta atrair empresas, multinacionais, como a Smofy ou a Coloplast para a AAE Alto das Barrancas, é essencial incentivar a formação de um ecossistema empresarial. Analisar as necessidades das empresas que se instalarão no Alto das Barrancas e incentivar a criação ou reestruturação de outras empresas em Felgueiras, que prestem serviços ou forneçam matérias primas a estas. Criar um ciclo virtuoso de crescimento e desenvolvimento económico que beneficia toda a região, promovendo a geração de emprego, inovação e diversificação económica.
Outro aspeto fundamental é a valorização do capital humano. A colaboração com instituições de ensino para a formação de mão-de-obra qualificada é crucial. Deve-se garantir que os empregos criados sejam não só abundantes, mas também de qualidade, aumentando assim o rendimento disponível dos cidadãos de Felgueiras.
É necessário definir uma estratégia, clara, integrada e coesa para o concelho que permita que este projeto atinja o seu pleno potencial, e é necessário garantir que ele não fique refém de agendas políticas partidárias.
A história da Autoeuropa em Portugal é um exemplo brilhante de como a colaboração entre diferentes esferas governamentais e o uso estratégico de fundos pode gerar sucessos duradouros. A AAE Alto das Barrancas deve ser encarada como um projeto de Felgueiras e para Felgueiras, transcendendo rivalidades políticas e mudanças de administração.
É crucial que este plano estratégico seja inclusivo, abrangendo não só os investidores estrangeiros, mas também os empresários locais. Não podemos criar uma “Via Verde” para o investimento estrangeiro enquanto os empresários locais enfrentam obstáculos de burocracia excessiva.
Um exemplo notável é a situação da variante em Cabeça de Porca, que, conforme relatado pela Lusa em fevereiro de 2022, tinha previsão de início das obras para 2023. Agora, no final de 2023, ainda não observamos progresso significativo.
Não podemos ter o alto das Barrancas. Projetos como a variante em Cabeça de Porca devem ser integrados nessa visão mais ampla, garantindo que toda a região beneficie do crescimento e do dinamismo económico.
A AAE Alto das Barrancas é mais do que um conjunto de pavilhões e estradas; é uma oportunidade de ouro para o desenvolvimento sustentável e integrado de Felgueiras. Para isso, é necessário pensar a longo prazo, com uma estratégia que abarque toda a região e que se concentre na criação de um ambiente propício ao crescimento económico, inovação e prosperidade para todos os felgueirenses.