Depois de um ano de 2023 particularmente difícil para o setor do calçado a nível mundial, com as importações a recuarem 8%, o primeiro semestre de 2024 continua a penalizar os principais players do setor.
A retração do consumo estende-se praticamente a todos os grandes blocos económicos, com as importações da Alemanha a recuarem 2%, da Bélgica 14%, da França 3%, do Japão 11% e do Reino Unido 5% nos primeiros cinco meses do ano. Na grande tela internacional, apenas os EUA ficam relativamente bem na fotografia, recuperando 1% nas importações, depois de uma perda na ordem dos 30% no último ano.
Em resultado, nesta primeira metade do ano, os principais exportadores foram afetados pela retração do consumo. A título de exemplo, o líder mundial do setor, a China, recuou 9% até junho.
Para Giovanna Ceolini, presidente da Associação Italiana de Calçado, as exportações italianas de calçado caíram igualmente 9% até maio: “a desaceleração que começou na segunda metade de 2023 continua este ano”, tornando-se ainda mais acentuada nos últimos meses, “com uma forte redução nas encomendas e na atividade de produção”. No habitual inquérito efetuado ao universo de empresas italianas de calçado, a líder da associação destaca que, “possivelmente, a recuperação do setor chegará apenas em 2025”.
A sentir igualmente os efeitos colaterais da Guerra e da retração do consumo, as exportações brasileiras de calçado recuaram 23% até julho.
Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, acredita, ainda assim, “num segundo semestre melhor”. “Em 2024, além da baixa dinâmica do consumo internacional, estamos com dificuldades adicionais nos dois principais destinos do calçado brasileiro no exterior, os Estados Unidos e a Argentina”.
Na mesma linha de pensamento, Paulo Gonçalves da APICCAPS recorda que “exportando mais de 90% da sua produção, o setor português do calçado está muito dependente da evolução dos mercados internacionais”. Até junho, Portugal, exportou 35 milhões de pares de calçado (menos 1,8%), no valor de 818 milhões de euros (recuo de 15,2%).
“Antevemos que a redução das taxas de juro e a inflação controlada possam funcionar como estímulos ao consumo, pelo que prevemos que o segundo semestre de 2024 seja já de alguma recuperação do setor a nível internacional”, considera o porta-voz da APICCAPS. “Esperamos que 2025 seja já o ano regresso em força do calçado português aos mercados internacionais.”