A Direção da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) enviou hoje uma circular aos seus associados, a que o Felgueiras Magazine teve acesso, onde traçou o atual panorama da indústria do calçado, e alertou os seus associados das dificuldades que se avizinham.
A APICCAPS sublinha o atual contexto “de profunda incerteza, rodeados de desafios vários”, apesar do setor estar, em 2022, a “viver um ano recorde” para a exportações. Contudo, o contexto “mudou nos últimos meses”, e 2023 será um ano de “grandes desafios”.
A Associação alerta para uma possível “contração ou mesmo em recessão económica” em muitos países europeus em 2023, bem como o aumento do custo dos fatores de produção que “não mostra sinais de abrandamento, bem pelo contrário”. O aumento da inflação e das taxas de juro também preocupa a associação do calçado.
Da Ásia não vêm boas notícias para o calçado português, uma vez que os fornecedores asiáticos das grandes marcas internacionais “estão a repor a capacidade produtiva que tinha sido afetada pela COVID-19, e em 2023 estarão novamente capazes de fornecer em pleno muitos dos clientes” que nos últimos meses procuraram a indústria portuguesa.
A associação nacional do setor do calçado alerta também para os resultados da Concertação Social, onde foram definidos os aumentos do Salário Mínimo até 2026, “o que conduzirá a um crescimento dos custos com salários de 28% em 4 anos (média de 7% ao ano)”. É um crescimento dos custos com pessoal “bem acima da inflação esperada e de forma assimétrica com os nossos concorrentes europeus”, assinala a APICCAPS.
Feito este retrato, a APICCAPS considera estarem “reunidas as condições para uma nova inversão de ciclo que se forma no horizonte e se perspetiva para breve. Em 2023 podemos passar muito rapidamente de uma situação particular de falta de capacidade produtiva e excesso de encomendas para uma quebra abrupta da procura”.
A associação dos industriais do calçado observa que o “sector deve preparar-se para este cenário e reforçar a sua presença nos mercados internacionais”, com destaque para a presença do calçado português nas feiras internacionais, lembrando que alguns dos principais concorrentes da indústria portuguesa “já estão a fazer este caminho de forma muito forte e têm estado presentes de forma significativa e expressiva nos mais recentes certames internacionais”.
“Em síntese, teremos de arrancar no ano de 2023 com mais comunicação e uma presença redobrada nos mercados internacionais. E isso significa, investir mais na promoção comercial externa, em especial em feiras profissionais, abordar mais mercados, criar marcas internacionais e promover as nossas empresas nos canais digitais”, lê-se na circular.
A circular informa ainda os associados que a APICCAPS está a procurar “reforçar a competitividade do sector”, dando como exemplo o Plano Estratégico do Cluster para 2030 (que deverá ser apresentado nas próximas semanas); as ações previstas em dois grandes projetos de investimento, em consórcio, financiados pelo PRR; o investimentos de promoção internacional do sector calendarizados para 2023 (Campanhas de comunicação, Missões inversas, Assessorias de comunicação, entre outras iniciativas); e os concursos do Portugal 2030 através dos quais poderão ser financiados os programas de internacionalização das empresas em 2023 (vulgarmente conhecidos como Feiras e Valorização da Oferta).