Autor: Nuno Oliveira
Mestre em Arqueologia
Caro leitor/ internauta, a rubrica que se segue e que o Felgueiras Magazine inaugura tem por objetivo divulgar para o grande público Felgueirense algum do seu património arquitetónico e arqueológico. Em traços gerais e de forma acessível tentarei nas próximas linhas – e em cada texto – propor uma viagem por sítios arqueológicos, por monumentos classificados, e outro património cultural e até imaterial por terras de Felgueiras.
Assim, dedico a atenção neste primeiro texto a um dos temas a que mais dedico as minhas investigações, o estudo da Cultura Castreja ou da Idade do Ferro.
Em Felgueiras, já pela pena de alguns ilustres pioneiros da arqueologia do nosso país, como é o caso de Martins Sarmento, foram-se dando a conhecer alguns castros (povoados fortificados) que podemos encontrar no nosso concelho, como é o caso do conhecido Castro de Sendim, de Cristelo, do Castro de Francoim, de Santa Marinha (freguesia de Aião), entre muitos outros que investigações vieram por a descoberto, como é o caso do Monte do Senhor dos Perdidos, ou o Monte da Senhora da Aparecida.
De resto, a palavra castro, cividade, castelo dos mouros, citânia, ou crasto são topónimos que conhecemos e que com certeza já nos deparamos. Ora, estes topónimos normalmente referem-se a antigas povoações, às vezes erradamente atribuídas ao tempo dos Mouros. A palavra castro significa povoação fortificada de origem anterior ao período romano. Estes nomes estão normalmente associados na paisagem a outeiros ou montes.
Foi exatamente através do topónimo Cividade que, durante o verão de 2017, pude realizar uma pequena prospeção superficial num povoado fortificado que até à época não se conhecia, ou melhor estava atribuído a uma outra cronologia.
Trata-se do sítio da Cividade, mais concretamente um pequeno outeiro situado nos terrenos da Quinta da Cividade, na freguesia da Refontoura, ao qual se acede com relativa facilidade, mediante autorização do proprietário.
Quem conhece textos sobre o património felgueirense conhecerá com certeza a famosa Anta da Cividade (de tempos pré-históricos), existente naquele local. Este monumento de origem geológica, pode até ter funcionado como abrigo em tempos remotos, contudo essa “anta” nada tem de mão humana e é apenas uma formação natural. Todavia, este pequeno outeiro foi ocupado, pelo menos, durante o séc. II a.C. já que a pequena investigação levada a cabo revelou a existência de cerâmica da Idade do Ferro e o que resta de uma pequena muralha. Estamos, por isso, perante um local ocupado durante a Idade do Ferro ou se preferirem do período da Cultura Castreja.
Muitos outros castros estão ainda por explorar e escavar cientificamente, aliás este da Cividade da Refontoura é apenas mais um a juntar ao rol de castros a ser escavados, num futuro que, espero, não muito longínquo.
Acredito que o património tem de ser conhecido e dado a conhecer a todos, porque só com todos o podemos conhecer melhor, preservá-lo e dá-lo a conhecer às novas gerações.