Nuno Cunha, um alpinista de Felgueiras, juntamente com o seu companheiro de escalada, José Trindade, alcançou o cume do Mont Blanc, a montanha mais alta dos Alpes e da União Europeia. Esta conquista não foi apenas uma vitória pessoal, mas também uma homenagem à sua terra natal, Felgueiras. No topo, Nuno “hasteou” a bandeira de Felgueiras, capturando o momento com uma fotografia que certamente ficará para a história.
A expedição teve início no dia 6 de agosto e culminou com a chegada ao cume às 6h02 da manhã do dia 8 de agosto. A rota escolhida pelos alpinistas começou em Bionnassay a uma altitude um pouco acima dos 1000 metros, em direção ao primeiro objetivo: o Refuge du Nid d’Aigle, situado a uma altitude de 2372 metros. “A rota do ponto de partida foi a motivação perfeita, estando repleta de paisagens magníficas. Percorremos densas florestas, atravessamos uma ponte tibetana e caminhamos por vales verdejantes ao lado do glaciar de Bionnassay”, partilha Nuno.
A jornada foi repleta de desafios. A famosa passagem do Grand Couloir, também conhecida como “travessia da morte”, foi um dos pontos mais críticos da escalada. “Essa passagem é um vasto corredor repleto de pedras e gelo, onde as pedras podem desprender-se a qualquer momento. Aqui, os alpinistas atravessam-na o mais rápido possível, num verdadeiro jogo de risco. É uma espécie de roleta russa, onde a agilidade é essencial para a segurança”, explica Nuno Cunha.
Após cruzar o Grand Couloir, deu-se início à maior aresta de parede de toda a subida. Um total de 500 metros de altura separa o início do final dessa etapa. “Durante horas, mantivemo-nos suspensos nas rochas, utilizando cabos de aço nas partes mais adequadas”, contou Nuno Cunha.
Após superarem diversos obstáculos, os alpinistas chegaram ao Refúgio du Goûter, um local marcado pela tensão e condições adversas, situado a 3815 metros de altitude. “É difícil descrever adequadamente este local. Aqui, a tensão é elevadíssima, a higiene é praticamente inexistente. Não há sequer água num simples lavatório para lavar as mãos e o rosto. Homens e mulheres compartilham as mesmas instalações sanitárias e a privacidade é quase inexistente. Tal ambiente que torna a convivência dependente do bom senso dos alpinistas. Resumindo, este ambiente não é para os despreparados”, comenta Nuno, destacando a importância da preparação e do bom senso para enfrentar tais condições.
No dia seguinte, os alpinistas partiram de madrugada em direção ao cume do Mont Blanc. Quando se encontravam a 4322 metros de altitude, a “montanha começou a ditar as suas próprias regras. O vento realmente intensificou-se, foi assustador. Mesmo com duas camadas de meias de alpinismo, as botas rígidas não eram capazes de impedir que o calor se dissipasse”. No entanto, a determinação e a paixão pela montanha impulsionaram Nuno e José a continuar. “A dor nos dedos das mãos era tanta que mal conseguia perceber o quão gelados realmente estavam. A partir deste momento, independentemente do cansaço físico, não podíamos mais parar. Mover o corpo era a única solução para manter o calor corporal”, relata Nuno Cunha.
Nesta fase, o objetivo estava quase a ser alcançado. “Apenas quatro alpinistas estavam à nossa frente, e consegui perceber que os dois primeiros já estavam a poucos metros do cume. Nesse momento, o meu relógio marcava quase 4700 metros, ou seja, estávamos a pouco mais de 100 metros de altitude do cume”, descreve Nuno Cunha.
Eram 6h02 da manhã, horário de Portugal, no dia 8 de agosto, quando os alpinistas chegaram ao cume. Nuno Cunha conta que “um longo abraço fez com que esquecêssemos, por breves momentos, o vento gelado. Uma mixórdia de sentimentos e pensamentos envolveu-nos, mas, na realidade, nem tivemos tempo para verdadeiramente processar o que havia acontecido”.
Esta conquista é um testemunho da determinação, coragem e paixão de Nuno Cunha e José Trindade. A sua jornada no Mont Blanc não foi apenas uma aventura pessoal, mas também uma celebração do espírito e orgulho felgueirense.