Numa noite de inverno em Felgueiras, enquanto a maioria se recolhe ao calor dos lares, a equipa feminina do Várzea Futebol Clube enfrenta o frio com determinação. O Felgueiras Magazine testemunhou um treino noturno, onde a força de vontade das jogadoras brilhava tão intensamente quanto as luzes que iluminavam o campo.
A equipa tem vindo a provar que o futebol não conhece género. Com apenas alguns meses de treino e competição na terceira divisão do Campeonato Nacional, estas atletas têm mostrado uma dedicação ímpar ao desporto rei.
Rúben Martins, treinador da equipa, destaca o compromisso das jogadoras. “Este ano, o objetivo principal é mesmo formar uma equipa. O projeto tem a duração de três anos, e durante este período queremos tentar subir de divisão,” explica. Rúben não nota muitas diferenças as equipas femininas e masculinas. Realça que “a nível psicológico, elas podem ficar um pouco mais abaladas quando os resultados não são tão positivos.”
Luísa, capitã da equipa e residente na freguesia de Penacova, enfatiza a união e responsabilidade partilhada. “Somos mulheres responsáveis e queremos todas o mesmo. Estamos unidas pelo mesmo objetivo e, por isso, tudo se torna sempre muito mais fácil.” A capitã aborda a influência da família que a apoia neste desporto, dando o exemplo da avó, que tem 85 anos, e que assiste aos jogos sempre que pode. “Ela sempre foi apaixonada por futebol. Desde que me lembro, ela é uma portista fervorosa e sempre assistiu aos jogos. Talvez seja daí que eu herdei um pouco desta paixão pelo futebol”, afirma.
Filipa, a mais jovem da equipa, tem 16 anos e combina escola e futebol. “Na escola, tenho muitos amigos que me apoiaram desde que comecei a jogar. Eles às vezes vêm assistir aos jogos.” Apesar do seu talento, Filipa vê o futebol mais como um hobby: “Ser uma jogadora profissional é bastante difícil… Para mim, o futebol é um hobby, um hobby que adoro. Mas acho que não é para mim tornar-me jogadora profissional.”, diz Filipa.
Já Catarina, avançada da equipa, viaja de Fridão, Amarante, para Felgueiras, sempre que há treino ou jogo. Ida e volta, é 1h30 de viagem! Em dia de treino, sai do trabalho às 18h, e só tem tempo para “fazer o saco e vir treinar. Não tenho tempo para quase nada”. Catarina conta que “Sempre tive paixão pelo futebol desde pequena. Tenho também um irmão mais velho, que contribuiu para essa minha paixão. Ele queria um irmão, mas não teve; teve uma menina, e ensinou-me a jogar. Portanto, a menina também joga e foi assim que nasceu o meu talento para o futebol.”, realça Catarina.
Daniela, jogadora e líder, fala sobre equilibrar vida pessoal, trabalho e futebol. “Para tudo na vida há tempo, basta querermos e fazer do tempo aquilo que gostamos.” Ela observa o crescimento do futebol feminino: ” O futebol feminino está em fase de crescimento. Isso nota-se principalmente no nosso campeonato, com as novas equipas que surgiram.” Daniela deixa ainda um convite: “Quem quiser aparecer para treinar e conviver, venha, porque o futebol não se resume às quatro linhas. É muito mais do que isso. Aqui, na minha equipa, onde passo muito tempo, vejo-as como família. É a família que ganhei”, diz Daniela.
Enquanto a noite avança, o treino continua. Cada jogada, cada passe, é uma demonstração da tenacidade e paixão destas mulheres. O frio da noite não consegue abalar o espírito quente destas jogadoras, que, sob as estrelas do inverno, mostram que o futebol feminino em Felgueiras é uma força a ser reconhecida e celebrada.
As histórias de Luísa, Filipa, Catarina, Daniela e as suas colegas de equipa não são apenas sobre futebol; são sobre superação e de união. O Felgueiras Magazine, através desta reportagem, procura não apenas contar as suas histórias, mas também ampliar a voz destas atletas que, em cada treino e jogo, provam que o futebol não é apenas um desporto, mas uma plataforma para a expressão de força, paixão e igualdade.