Autor: Mário Adão Magalhães
Jornalista
Em Portugal somos assim mesmo, ou mesmo assim:
Somos tão bons, tão solidários que acabámos por cair em logros tais como as imensas generosidade e solidariedade que mostrámos pelos fogos de 2017 e 2018 de que já (aqui) dei nota. Não sem eu ter sugerido que se fizesse os donativos pelo caminho mais estreito. Que passasse pelo menor número de mãos possível. Aconteceu uma coisa que me dá muita urticária: ter razão. Não suporto ter razão.
Mais recentemente no caso da pequenina Matilde onde, por fim o Estado veio
meter o carro à frente dos bois, depois dos portugueses disponibilizarem mais de
dois milhões de euros num instante e por fim, ainda que se não percam:
“vão para outras Matildes”. Mas o Estado não perdeu a oportunidade de
vir beliscar, macular as nossas solidariedade e generosidade – desafinar um
pouco, desestabilizar para que futuramente não respondamos com tanta eficácia a
este tipo de chamadas.
De novo com o carro à frente dos bois, no caso do bebé deixado no lixo, o
Estado veio exemplarmente, é facto, cuidar de fugir a todas as burocracias
habituais, que não haja sombra de dúvidas, era, antes do seguinte, o melhor
procedimento para o bebé, mas não era preciso ir a Coimbra para discernir – a
mim, por sinal, ocorreu-me, que a família poderia aparecer a reclamar tão
justamente a custódia do nobre infante.
Na ânsia de mostrar atenção, dinamismo e eficácia, o Estado não cuidou de
procurar, encontrar – esperar pela família. Antes: sem mais senãos encarcerou a
mãe. Na altura escrevi disso. Não quis verificar a montante nem a jusante o que
levara a mãe da criança ter o propósito de a colocar no lixo.
Posso abrir aqui um parêntese (quantos casos mais não hão-de haver sem que
alguém os descubra no lixo e noutros vários locais. E o parêntese fecha aqui),
podendo ser reaberto.
Agora, muito legitimamente, aparece a família a reclamar a custódia da
criancinha depois de a ter entregue a uma família – que não duvido dela
cuidasse muito, muito bem, nem discordo da celeridade do processo, mas que veio
culminar nisto:
A avó, a família quer a criança.
(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico).