Autor: Pedro Fonseca
Mestre em Economia | Diretor do Felgueiras Magazine
diretor@felgueirasmagazine.pt
No mês passado, tive a oportunidade de estar presente na Samba, a fábrica de calçado em Felgueiras que atualmente produz as sapatilhas da marca Veja. Tratou-se de uma “ação de charme” da marca francesa, que convidou a elite da imprensa europeia da moda para ver in loco a produção das sapatilhas. Da imprensa portuguesa, foram convidados o Observador, o Público, a Visão e, claro, o Felgueiras Magazine – um convite que nos enche de orgulho.
Desde 2005, e até há poucos meses, toda a produção das sapatilhas Veja era realizada no Brasil. Em 2023, a Veja iniciou a produção de um dos seus modelos, o V-90, numa fábrica em Felgueiras, no âmbito do “Projeto AEGEAN”. Este projeto visa produzir na Europa as sapatilhas destinadas ao mercado europeu. Se tudo correr como previsto, da produção às vendas, é provável que a Veja comece a produzir em Portugal outros modelos, e maiores quantidades.
Em 2023, a Veja vendeu 3,5 milhões de pares de sapatilhas em todo o mundo, sendo uma boa parte destinada à Europa. Ora, se a Veja decidir produzir todas as sapatilhas vendidas na Europa em Felgueiras (o que poderá ou não acontecer – é apenas uma reflexão), poderá tornar-se num dos principal cliente das fábricas de calçado do nosso concelho. Devemos gerir as nossas expectativas. O “Projeto AEGEAN” é apenas um primeiro passo da Veja na produção de calçado na Europa.
Em 2017, a Veja solicitou a uma fábrica chinesa uma estimativa de preço para a produção das suas sapatilhas. O preço apresentado foi de 5,3€ por par (o orçamento está disponível no site da Veja), mas a marca optou por manter a produção no Brasil, onde o custo era de cerca de 25€ por par, aproximadamente quatro vezes superior ao da fábrica chinesa. A razão? A produção na China não atenderia aos padrões sociais e ambientais exigidos pela Veja.
Marcas como a Veja são essenciais para a indústria portuguesa, pois apostam na qualidade e na diferenciação, e não apenas no “preço baixo”. Contudo, são marcas exigentes com os seus fornecedores, e avaliam aspetos como padrões de trabalho, saúde e segurança, sistemas de gestão, direitos laborais, subcontratação, avaliação ambiental ou ética empresarial. Serão poucas as fábricas de calçado portuguesas que conseguem cumprir os requisitos de marcas como a Veja. A maior parte das fábricas de calçado portuguesas têm um longo caminho pela frente que deve ser percorrido rapidamente.
Ainda sobre a visita à fábrica de calçado, para nós, Felgueiras Magazine, acabou por ser “mais uma” visita a uma fábrica de calçado (para terem uma ideia, creio que terá sido a minha quarta “visita guiada” à Samba). Contudo, foi curioso assistir às reações dos restantes jornalistas e influencers ao visitarem, em especial, a produção: a maior parte deles estavam pela primeira vez numa fábrica de calçado. Fiquei também com um sentimento de orgulho, por ver uma marca como a Veja a confiar numa fábrica de Felgueiras, ao ponto de trazer as principais revistas de moda europeia para ver a fábrica e a linha de produção.
A Veja escolheu Felgueiras, e agora, cabe a nós mostrar que esta escolha não foi apenas acertada, mas um passo estratégico para a Veja e para a indústria portuguesa do calçado.